quarta-feira, abril 19, 2006

Confessionário (18)

Não quero voltar de novo à conversa daquela carta e às respostas que me deste na confissão anterior. Não vale a pena. Não porque o assunto não mereça mais tempo ou dedicação, mas antes, por achar que tudo foi devidamente entendido; afinal, não será por causa de um oceano que nos sentimos perto… serão outras as razões, certo?
Tenho-me obrigado a guardar algum tempo para reflectir sobre uma série de coisas. A assiduidade (ou falta dela) das minhas respostas provavelmente já to revelou. Uma das questões prende-se com o complicado que é fazermo-nos confiáveis às necessidades dos outros. Naquilo que me envolvo, sabes que me entrego sempre com ânimo e entusiasmo, tento sempre (é uma regra que tenho como princípio irrevogável) dar o máximo de mim, sem reservas, falsas esperanças ou truques de sedução capazes de atalhar o caminho para conquistar a confiança do outro. A conclusão a que cheguei, se é que poderei concluir já alguma coisa, diz-me que, muito raramente, os meus interlocutores conseguem despir a imagem social que me compõe e mostrar alguma disponibilidade na análise, sem preconceitos, daquilo que lhes proponho. Quando me chegam as respostas, há sempre dois ou três argumentos comuns… “és muito novo, a vida há-de ensinar-te, não tens experiência.” Com argumentos assim sinto-me completamente desarmado. Realmente sou novo, e não tenho, por essa lógica, a experiência que me exigem.
Acho este tipo de argumentação de uma arrogância inexplicável, ao mesmo tempo que o considero um acto paupérrimo de inteligência, primeiro porque idade não é sinónimo de experiência (há vidas longas que não experimentaram metade das emoções doutras vidas mais breves) e segundo, pelo pretensiosismo de arredar da conversa quaisquer outros argumentos que validem a nossa interpretação e/ou opinião sobre determinado assunto. Quem me conhece, e tu conheces, sabe o quanto respeito a experiência e a velhice. Tenho-as como o caminhar para uma existência cada vez mais apaziguadora e selectiva, capaz de valorizar e distinguir aquilo que realmente é essencial. Ainda no post sobre a exposição da Frida Kahlo no CCB fiz um apontamento às vantagens da idade. Como prova, farto-me de transcrever parágrafos do “Elogio da Velhice” do Hesse, um dos textos mais lúcidos que li, mas não posso aceitar esse tipo de argumento como forma de terminar uma conversa, ou como tentativa de inviabilização de uma ideia, apenas porque não foi experimentada ou porque, pela sua fuga ao “padrão” vigente, impõe uma metodologia diferente à sua concretização.
Bem, mas a indignação decorrente da tal reflexão a que me obrigo só aqui começa, apesar de tudo o que já te contei. Postas as cartas na mesa, e deste modo, parece que tudo se bipolariza: ou se anulam as ideias e se vai na onda (para evitar chatices) e um dia, pobres de espírito, lançamos dos mesmos argumentos para discutir ideias com a gente mais nova; ou nos tornamos numa espécie de resistentes, uma espécie de pintelhos reaccionários que têm a mania que são mais do que os outros (é assim que os catalogam). Enfim, venha o diabo e escolha!
Sabes o que me vem à cabeça depois de tudo isto? Uma espécie de certeza de que não existem pessoas geniais, mas antes, pessoas mais ou menos persistentes. Talvez consideres isto presunção minha, corro esse risco… mas é a hipótese que me parece mais evidente. Enquanto espero o teu comentário vou continuar a procurar explicações.
Já agora: para que saibas que escrever esta série, é para mim, uma festa idêntica. Obrigado pela possibilidade de resposta.

1 comentário:

Vítor Leal Barros disse...

eu também estou cheio de saudades e com vontade que voltes a postar quase todos os dias como no inicio... é sinal que a vida começou a correr