quinta-feira, junho 29, 2006

PUB

*[Reunião de Obra #003 - Tema: Indústria - Unidade Industrial da Inapal Plásticos, Autoeuropa, Palmela - Francisco Vieira de Campos do atelier Guedes deCampos]
De 29 Junho até 17 Setembro de 2006 - Museu dos Transportes e Comunicações, Alfandega, Porto3ª a 6ª 10h00-12h00 e 14h00-18h00 Sábado e Domingo 15h00-19h00

Terá lugar hoje, dia 29 de Junho, às 21h30, no Museu dos Transportes e Comunicações, a inauguração da exposição Reunião de Obra #003 Indústria, dedicada à unidade industrial da Inapal Plásticos, Autoeuropa, em Palmela, da autoria de Francisco Vieira de Campos do atelier Guedes deCampos.
A abertura da exposição será precedida de uma conferência / debate com a presença do arquitecto autor do Projecto e de alguns dos intervenientes no processo da obra, nomeadamente Eng.º Rui Furtado, da AFA Consult, engenheiros Dina Pascoal e Alberto Machado, da Blocotelha, e Gonçalo Sousa Soares e Joana Neves Silva, da AFA Plan, Dr. João Vieira de Campos, da Inapal Plásticos.
O debate será moderado pelo arq. Luís Tavares Pereira, em representação do Pelouro da Cultura da OA-SRN.
*texto integralmente retirado do boletim informativo da Ordem dos Arquitectos.

o porquê de criar um blogue...

...hoje, enquanto vasculhava o Extreme Tracking, descubro que alguém nos visitou de um blogue denominado 'A Missão é Possível'. Um blogue para manter a linha... não acreditam? ora vejam...

imagens que se colam ao peito (5), em resposta ao post da Lu


Woman Before an Aquarium, 1921-23, The Art Institute of Chicago, Chicago, EUA, Henri Matisse

Um mini...

Achou que o amor era assim uma loucura amarela como os Girassóis de Van Gogh cujo centro só latejava quando o sol, a pino, fazia o miolo marrom aveludado girar. Embarcou na idéia de que o amor era essa ciranda vertiginosa do meio-dia: pernas agitadas, asfalto mole turvando a vista, suor escorrendo pelas dobras do corpo. Até seu perfume era selvagem: tinha o toque de almíscar.
Mas – quem ousara pensar – tudo aconteceu numa noite de lua branca e céu cobalto, na hora que o sol é mero fogo pálido.
No balcão da padaria, ela pediu um sonho. Antes mesmo que desse a primeira mordida seus olhos cruzaram o rosto geométrico do homem de azul. Ele tinha cheiro de madeira – talvez cedro – e movimentos lentos. Soube então, naquele instante, que o amor também tinha os tons suaves de um Matisse.

quarta-feira, junho 28, 2006

A Estrada


plano do filme The Brown Bunny, 2003, Vincent Gallo

Sobre o silêncio a música actua como um relâmpago na paisagem; energia em corrente apertada, estourando ao cair da noite na base do sobreiro. O cheiro queimado da cortiça e a construção da memória, dias em que o carro atravessava o Alentejo e eu era uma cabeça de criança fora da janela ondeando na paisagem. Partir, sempre me significou liberdade, um encontro em vez de desencontro. No dia em que eu decidir arrancar o fim à estrada e não mais voltar, é porque acreditei que será possível recuperar-me.

LADO B (17)


sublinhado (32)

E, com efeito, se só por todos os outros éramos o que éramos, dos outros dependia a nossa identidade, e eles eram livres de não a reconhecerem, de a contestarem, de trocarem-na por outra, ou de firmemente no-la recusarem. A identidade era como um passaporte provisório para sermos, que podia durar a vida inteira e mesmo para além da morte, se isso conviesse aos outros, e apenas enquanto lhes conviesse. (pág. 405)
Sinais de Fogo (Público), Jorge de Sena

terça-feira, junho 27, 2006

Contagem...

...faltam oito dias para ir de férias...

imagens que se colam ao peito (4)

Colle Capitolino, 1548, Roma, Itália, Michelangelo Buonarroti

sexta-feira, junho 23, 2006

Dá cá um balão...

Saio neste momento de casa em direcção ao Dragão... metro até 24 de Agosto e caminhada às Fontaínhas... onde se comem as sardinhas. Espero estar na Foz quando o dia nascer... Bom S. João!

Do gostar de arquitectura

Maison à Lège, 1998, Cap Ferret, França, Lacaton & Vassal
Desde a entrevista que a Ana Sousa Dias fez à arquitecta/artista Françoise Schein no programa ‘Por Outro Lado’ da Dois, que eu não ouvia/lia um discurso e uma abordagem à arquitectura tão interessantes como os que pude constatar na entrevista que José Adrião e Ricardo Carvalho fizeram aos franceses Lacaton & Vassal na última edição do Jornal dos Arquitectos.
Uma das coisas que mais me incomoda em arquitectura é a linguagem extremamente abstracta e convencional que os arquitectos utilizam na explicação dos conceitos e ideias que sustentam os seus trabalhos. Não é raro escutarmos em conferências termos como, escala, desenho, forma, volume, eixo, simetria, assimetria, fio condutor, espacialidade, percurso, textura… (podíamos continuar por aí adiante), palavras caríssimas à classe e que pouco ou nada dizem ao cidadão comum, que é, nada mais nada menos, o destinatário e usufruidor final das obras de arquitectura. Lembro-me de há uns 3 ou 4 anos atrás ter frequentado um seminário de três dias sobre critica de arquitectura e de, em cerca de 15 emissores, notar que apenas um ou dois tinham uma preocupação declarada em relação às pessoas, aos cidadãos anónimos que “consomem” as obras dos arquitectos. Todos os outros preocuparam-se mais em justificar os seus princípios e conceitos aos colegas do que em pensar uma arquitectura que responda com inteligência às necessidades reais do cidadão comum.
É exactamente por contrariar essa tendência, que o discurso da dupla de arquitectos franceses Lacaton & Vassal me fascinou. Já conhecia alguns dos seus trabalhos do tempo da faculdade, como a casa Latapie, na altura exposto por uma das melhores professoras que tive, a arqª. Teresa Novais. A simplicidade construtiva, as preocupações sempre presentes de conforto e bem-estar, a adequação da arquitectura às necessidades reais das pessoas que a vão usar e habitar, foram temas explorados na altura e que hoje tive oportunidade de rever enquanto lia a entrevista do JA. Mas houve outros aspectos que me marcaram imenso e que só encontro paralelo quando me debruço sobre o trabalho de alguns arquitectos latino-americanos ou europeus que trabalharam nesses países, como Barragán e Lina Bo Bardi (pós estilo-internacional) e Jorge Mário Jáuregui, Manoel Ribeiro e Françoise Schein (contemporâneos), e que se prendem com ideias de optimismo, sustentabilidade, reciclagem e colonização do espaço por aqueles que o utilizam. O posicionamento de Jean Philippe Vassal em relação aos grandes aglomerados dos subúrbios de Paris é muito elucidativo: “Demonstramos que em termos económicos era muito vantajoso, já que com metade do dinheiro podíamos fazer duas vezes mais edifícios e ao mesmo tempo optimizávamos as condições dos edifícios existentes, pela sua transformação. (…) Insistimos principalmente na questão dos edifícios. A maior parte dos arquitectos ou urbanistas pensa que o espaço público é o grande problema, mas nós pensamos que todos os projectos têm que começar no interior dos edifícios. (…) Dentro dos edifícios cada família torna-se cliente. É necessário ir a cada piso e perceber quais são as necessidades quer individuais quer comunitárias. (…) É portanto, fazer o trabalho a partir do existente, de modo bastante delicado, mesmo com pessoas a viver aí, tentar incomodá-los o mínimo possível e pensar que a solução vai sempre ser encontrada. (…) O que quero dizer é que é necessário ser optimista. É muito mais importante ver as coisas positivas que existem do que as negativas. Encontrar soluções para resolver os pontos negativos e manter as coisas boas que existem e reforçá-las.” Todo este discurso fez-me lembrar de um dos períodos mais bonitos da arquitectura portuguesa, na época do SAAL (Serviço Ambulatório de Apoio Local), que infelizmente morreu com o arrefecer da euforia pós-revolução. Apesar de tudo, continuo a acreditar que com pouco pode-se fazer muito (já diziam os Índios da Meia Praia). Para concluir, cito a parte que mais me tocou de toda a entrevista, e que foi um dos testemunhos mais bonitos que li sobre esta profissão: “De facto, não estamos muito preocupados na questão da obra, da obra do arquitecto. Para mim o que é mais importante é o que se faz ou fez durante a vida, e o modo como se trabalhou, muito mais do que considerar um projecto em particular como uma obra ou se esta dura ou não para a eternidade.” Mais à frente acrescenta: “A Arquitectura pode ser uma coisa leve, suave, gentil e precisa.”

quinta-feira, junho 22, 2006

Confessionário (23)

Quero pedir-te desculpa pelo atraso na resposta. Ando muito ocupado com o trabalho e no pouco tempo que sobra tenho vontade de tudo menos de escrever. Às vezes imagino como seria bom ter-te mais perto. Em vez de me sentar e respirar fundo antes de escrever, convidava-te para tomar um café à beira-mar, onde uma hora de conversa seria um limite menos constrangedor para te dizer tudo o que te quero dizer.
Tenho lido e relido os teus últimos textos. Sempre que com eles me encontro, cresce-me a sensação de uma agulha a picar o peito, uma picada constante num movimento cíclico e interminável. Parece que esse Inverno chegou rigoroso… e que nem o Verão de cá, com a luz transparente dos últimos dias, consegue ter força suficiente para atravessar o oceano e levar até aí alguma tranquilidade.
Lu, não há sensação mais horrível do que sentirmo-nos impotentes perante as adversidades das vidas dos nossos amigos. Ficamos sem saber o que dizer, o que fazer, como fazer… a ansiedade cresce-nos sempre que pensamos na palavra certa para dizer, ou na intensidade que devemos colocar em cada abraço. Assistir ao desenvolvimento dos acontecimentos dizendo apenas ‘eu estou aqui’ é demasiado frustrante, é quase cruel… porque a nossa vontade cresce no sentido de provocar uma revolução que vos liberte e o tempo obriga-nos à sensatez de saber ouvir e esperar…
…mas é dessa forma sensata que devemos saber esperar, é dessa forma paciente que devemos amplificar a nossa capacidade de ouvir… porque ser amigo implica um não sei quê de permanência, de inconformismo, de teimosia… ser amigo significa vestir o papel dos Resistentes em tempos de ditadura… a sua função é tão e somente não deixar morrer a esperança de que dias de paz chegarão. Um beijo.

quarta-feira, junho 21, 2006

pois...já cá faltava!


Ainda não mencionei o Mundial no blogue, nem fiz qualquer referência aos jogos da nossa ou de outra selecção. Só para avisar que hoje, vou ser um daqueles a folgar ao trabalho durante o jogo da selecção. Portugal 2 – México 0 (para ajudar Angola). Evitamos a Argentina e esperamos a final com o Brasil, se a matemática o permitir e as pernas também. (Lu, tenho visto os jogos do Brasil, o Ronaldo está realmente gordo!)

terça-feira, junho 20, 2006

LADO B (16)


imagens que se colam ao peito (3)


Maison et Arbres, c. 1890-94. Óleo sobre tela. The Barnes Foundation, Pennsylvania, EUA, Paul Cézanne
Para a Luciana, que as cores e o imaginário de Cézanne te soprem tranquilidade.

Da esperança

Entre o céu e o inferno há uma rosa de permeio.

segunda-feira, junho 19, 2006

Das muitas mortes

Morremos quando tudo dói, quando o simples fato de respirar iguala-se a milhões de alfinetadas na alma, quando - apesar da vontade incontrolável de chorar - não existem mais lágrimas. Tudo está seco: o coração, os olhos, a boca.
Morremos quando o sangue congela nas veias e ainda assim a vida insiste em ficar.

sexta-feira, junho 16, 2006

O Outro Lado (13)

quarta-feira, junho 14, 2006

Do silêncio

O azul de seus olhos esconde o mar revolto em seu peito. Eu não me engano com a transparência dessas águas, elas poderiam engolfar o mais remoto dos pensamentos.
O suposto equilíbrio repousa no fio da navalha, uma escorregadela e o diapasão produzirá sons eternamente distorcidos.
Desvio meus olhos daquela imensidão azul e repouso meu ouvido no seu peito – rochedo que ampara as investidas das ondas.
No momento, tudo o que posso fazer é ouvir o líquido dissolvendo o concreto.

Na estante (4)

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrga ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.

Este o nosso destino:amor sem conta,
distribuido pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

Amar, Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, junho 13, 2006

quinta-feira, junho 08, 2006

Giorgione e Da Vinci

Dos quadros de Giorgione e Da Vinci nascem olhares indecifráveis. Não consigo avaliar-lhes correctamente a expressão; entre o desespero, a agonia e a desconfiança de La Vecchia, ou a androginia, o despeito e a ironia do João Baptista de Da Vinci, surge-me uma quantidade tal de outros adjectivos, que se os enumerasse, este texto chegaria com dificuldade a um fim.
Após ter publicado no blogue o quadro de Da Vinci reparei que as duas obras distam uma da outra cerca de dez anos e que o diálogo entre elas não se resume à sua contemporaneidade. A posição das mãos por exemplo: ambas indicam ou apontam qualquer coisa, no quadro de Giorgione a mulher aponta o indicador ao coração, a figura híbrida de Da Vinci aponta a cruz ou o céu, ou as duas coisas em simultâneo. As semelhanças continuam: em ambos a luz concentra-se nos personagens e há um enegrecimento total do espaço que os envolve; há um manto caído sobre o ombro direito da mulher (Giorgione) e um outro, caído sobre o braço direito do João Baptista (Da Vinci); os dois personagens seguram um objecto na mão que aponta… enfim, uma série de outras semelhanças para além destas, de que, as duas rugas vincadas no pescoço dos dois personagens, poderiam ser mais um exemplo.
Entre tantas coincidências resolvi instruir-me e aprender com quem percebe muito do assunto. Peguei no Argan e no Benévolo há procura de uma análise detalhada sobre os ditos quadros, mas pouco tenho encontrado (pelo menos na bibliografia que tenho cá por casa, que apesar de não ter as proporções desejáveis não deixa de ser generosa). De Giorgione há análises da Tempestade, do Concerto Campestre, da Vénus e da Judite, mas de La Vecchia nada… de Da Vinci, o mesmo em relação à Última Ceia (ainda por cima está na moda!), da Gioconda, da Adoração dos Magos, da Virgem dos Rochedos, mas do João Baptista, idem, idem, aspas, aspas. Enfim, motivos atrás de motivos para aguçar a curiosidade. Se alguém tiver informação para partilhar ou quiser continuar apenas a debater o assunto, eu adoraria…

terça-feira, junho 06, 2006

pedido de desculpas

Com os dias bonitos e as noites maravilhosas que temos tido, apetece tudo, menos estar sentado em frente a um computador... portanto, não estranhem se não me virem por cá durante os próximos dias. Está tudo nas mãos do tempo!

sábado, junho 03, 2006

LADO B (15)


Petição em defesa do CPF

Em defesa do CPF, em defesa da fotografia em Portugal Os fotógrafos, os amantes da fotografia e outras pessoas têm sido confrontadas com um conjunto de notícias na comunicação social que parecem vaticinar o fim do Centro Português de Fotografia a curto, médio prazo. Uma das últimas notícias relatava mesmo expressamente a aprovação em conselho de ministros da extinção da Direcção Geral do CPF. De acordo com o diploma (resolução do Conselho de Ministros nº 39/2006 de 30 de Março – in DR I Série-B de 21 de Abril de 2006), os serviços e o património por que o CPF era responsável serão partilhados entre duas novas Direcções Gerais, os Arquivos Nacionais e a Direcção Geral do Apoio às Artes, que no fundo corresponde a uma mudança de nome do IA. Mas esta divisão do CPF pelas duas tutelas é muito pouco concreta em muitos casos, deixando no ar muitas interrogações. Procurando obter alguma informação que permitisse compreender o conteúdo destas mudanças, verificaram com estupefacção que nada neste processo é claro ou transparente. Só se sabe que se pretender alterar o estatuto do CPF. Porquê não se sabe bem, para além de pretensas razões economicistas, mas mesmo essas não são muito objectivas, pois há inúmeros organismos dependentes do MC, muito mais dispendiosos e, nalguns casos mesmo sem razão de ser, que continuam intocáveis. Veja-se o caso dos funcionários da Casa das Artes que estão em casa há anos, a receber o ordenado e o subsídio de refeição por inteiro. Extingue-se o CPF, mas não se sabe o que irá acontecer por exemplo à colecção de fotografia, ao espólio museológico constituído por câmaras e outro material, aos funcionários, ao edifício etc. A ministra, quando questionada, nada esclarece! Não sabe ou não quer dizer. O Diploma apenas diz que o património passa para os Arquivos Nacionais e que as atribuições relativas ao apoio e difusão da fotografia transitarão para a Direcção Geral do Apoio às Artes. Mas não especifica que património. O gabinete da ministra, quando questionado, não concretiza. De acordo com Maria do Céu Novais, assessora da MC, in Público de 6 de Abril 2006, "O CPF deixa de ter competências de apoio à fotografia, que transitam para a nova Direcção-Geral de Apoio às Artes". Claro que nos poderão argumentar que nunca ninguém falou em extinguir o CPF. Que não se trata disso! É verdade, mas gato escaldado de água fria tem medo e há muitos sinais que indiciam que há mais para além do que se diz. E de facto, nunca também o ministério clarificou de uma forma explícita, preto no branco, que o CPF continuará a desempenhar o papel que lhe foi atribuído, porventura reforçado e dinamizado, que permanecerá no Porto e que continuará instalado na Cadeia da Relação. A extinção da DG e a subordinação do CPF a duas tutelas tão diferentes, que nunca tiveram responsabilidade/experiência na área da fotografia e que não parecem vocacionados para tal, não augura nada de bom. Mais surpreende ainda todo este imbróglio se tivermos em conta as posições da actual ministra na AR, a defender então o projecto CPF e a contestar os planos do governo anterior para extinguir o CPF. Foi há menos de dois anos (Novembro de 2004). Mas na altura não era ministra... Uma pergunta óbvia é: quem poderá lucrar com os restos mortais desta instituição? Quem esfrega as mãos à espera do fim? O que está a acontecer é preocupante por diversas razões e antes do mais por não ser transparente e não resultar de uma avaliação objectiva e pública do papel da instituição. O CPF foi criado há nove anos com a missão de prestar um serviço público na área da fotografia. O edifício da Cadeia da Relação foi preparado para esse fim, tendo a renovação feita (levada a cabo por uma equipa coordenada pelo Arqº Eduardo Souto Moura) respondido especificamente a um programa adequado a esse fim, no que diz respeito a áreas técnicas e equipamentos. O investimento feito não foi pequeno. Mas a verdade é que, após os primeiros anos de algum dinamismo, se assistiu a uma política encoberta de asfixiamento financeiro da instituição. Apesar de muitas críticas que algumas pessoas possam fazer à intervenção do CPF na fotografia em Portugal, a verdade é que teve um papel global bastante positivo, contribuindo de diversas formas para o apoio e a divulgação da fotografia em Portugal e no estrangeiro, muitas vezes com muito poucos meios. Extingui-lo será uma machadada no entendimento da fotografia em todas as suas componentes, na arte, e na cidade do Porto que tem e sempre teve uma importante responsabilidade na afirmação cultural e artística da fotografia portuguesa. O primeiro objectivo deste movimento é portanto alertar as pessoas para o que está a preparar-se na sombra. Não é por acaso com certeza que estes planos, que deveriam ser objecto de grande divulgação nos jornais e discutidos abertamente pelos fotógrafos e pelas forças vivas da cidade do Porto, não têm quase nenhuma visibilidade. Este movimento pretende também ajudar a compreender o impacto negativo de uma medida tonta e impensada como esta. O impacto negativo na fotografia que deixará de ter um organismo com alguma autonomia e vocacionado para a sua divulgação e apoio, para voltar a ser dependente de instituições e de pessoas sem qualquer sensibilidade e conhecimento fotográfico. O impacto negativo na cultura que deixará de contar com mais uma instituição que devidamente dinamizada poderia ter um papel relevante na cidade e no país. Um impacto negativo na cidade, que poderá vir a perder mais uma das instituições relevantes que aqui foram criadas, permitindo assim a crescente assimetria de um país que assiste impávido e sereno à concentração do acesso à cultura na cidade de Lisboa. Como primeira iniciativa este movimento solicita a mobilização de todos os fotógrafos e de toda a gente que gosta de fotografia, para se concentrarem no CPF – Cadeia da Relação no dia 3 de Junho, sábado, às 15 horas, com as suas máquinas fotográficas, para simbolicamente fotografarmos todos o CPF por dentro e por fora. Se conseguirem extinguir o CPF haverá um registo, uma prova em negativo ou em digital, uma marca nos corações de todos nós, do crime cometido e da instituição destruída pelo MC. http://www.cpf.pt/ Durante a concentração discutiremos como continuar o protesto, nomeadamente utilizando o material fotográfico resultante da nossa acção. Não extinguirão o CPF com a nossa complacência. Pelo menos isso!

sexta-feira, junho 02, 2006

imagens que se colam ao peito (2)

S. João Baptista, c. 1513-1516. Óleo sobre madeira. Musée du Louvre, Paris, França, Leonardo da Vinci