O fenômeno sensacionalista do momento é a morte de Michael Jackson.
Não dava para ficar calada a respeito do circo midiático criado ao redor do cantor. Bastou morrer para que ele deixasse de ser um pedófilo para ocupar novamente seu papel de gênio, Rei do pop.
Não entendo o motivo de as pessoas se surpreenderem com a morte misteriosa daquele que foi a personificação do mistério no mundo pop. Mais do que surpresas, as pessoas estão chocadas.
Chocadas com o que, me pergunto. O que ainda pode provocar estranheza, estupefação, no que tange à figura de Jackson?
Chocada fiquei quando vi um Michael Jackson se dissolver como ser humano; quando vi sua esquizofrenia e infelicidade ganharem corpo, abrindo mão daquilo que mais nos representa: a identidade.
Michael Jackson não é o primeiro e está longe de ser o último na lista de celebridades que desaparecem de maneira trágica e triste.
A dependência química, a depressão, a falta de limites, aliadas a uma história de vida miserável, já levaram muitas pessoas do cenário musical: Cássia Eller, Renato Russo, Elis Regina, Janis Joplin, Billie Holyday, Jim Morrison, Jimi Hendrix, Brian Jones, Kurt Cobain, Michael Hutchence, Elvis Presley e por aí vai.
O que diferencia Michael Jackson da pequena lista acima é o fato de ter sido o único (se bem me lembro) que – além de causar mal a si mesmo pelo uso de drogas – mutilou suas feições.
Nem vou me prolongar, neste post, discorrendo sobre o talento inconteste de MJ. Na minha opinião, somente dois nomes citados acima revolucionaram a música dentro de seus estilos.
Elvis Presley e M. Jackson. As alcunhas de Rei do rock e Rei do pop, respectivamente, fazem jus aos artistas. Ambos fizeram mais do que revolucionar o rock e o pop. Eles criaram estilos únicos. Elvis deixou o legado do macacão espalhafatoso e do requebrado hormonal de sua pélvis; Michael abusou de coreografias ousadas e das luvas bordadas com pedras preciosas. Independentemente do gosto do freguês, isso ficará. Essas expressões têm assinatura inconfundível.
O que me deixa cada vez mais desesperançada em relação ao ser humano é, de um lado, a sua fragilidade, a sua debilidade enquanto indivíduo; de outro, sua ferocidade enquanto sociedade. Podemos ser fator de transformação, mas escolhemos ser letais, hobbesianos.
Além da baixíssima autoestima, de uma história pessoal de abusos, Michael Jackson foi vítima de preconceito racial. Ele acreditou, como poucos, numa teoria do branqueamento e não mediu esforços para ser aceito.
Aqui no Brasil, a teoria foi estudada por Sérgio Buarque de Holanda; foi tema de livros, como os de Lima Barreto (O mulato, Clara dos Anjos), e ainda hoje é estudada nos meios acadêmicos.
Skidimore em Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro, afirma que embora o campo intelectual brasileiro, do final do XIX e início do XX, se inspirasse nas teorias racistas européia e norteamericana, não podia negar o alto grau de miscigenação do povo brasileiro e nem pregar uma segregação institucionalizada como fizeram os EUA. “Ao contrário dos EUA, em vez de duas castas (branca e não branca), havia uma terceira casta social bem reconhecida: o mulato. Quanto mais clara a tonalidade da pele, maior sua aceitação na ascensão social.
Daniel Bar-Tal, um dos pioneiros na análise da infra-humanização dos grupos minoritários, afirma:
Não dava para ficar calada a respeito do circo midiático criado ao redor do cantor. Bastou morrer para que ele deixasse de ser um pedófilo para ocupar novamente seu papel de gênio, Rei do pop.
Não entendo o motivo de as pessoas se surpreenderem com a morte misteriosa daquele que foi a personificação do mistério no mundo pop. Mais do que surpresas, as pessoas estão chocadas.
Chocadas com o que, me pergunto. O que ainda pode provocar estranheza, estupefação, no que tange à figura de Jackson?
Chocada fiquei quando vi um Michael Jackson se dissolver como ser humano; quando vi sua esquizofrenia e infelicidade ganharem corpo, abrindo mão daquilo que mais nos representa: a identidade.
Michael Jackson não é o primeiro e está longe de ser o último na lista de celebridades que desaparecem de maneira trágica e triste.
A dependência química, a depressão, a falta de limites, aliadas a uma história de vida miserável, já levaram muitas pessoas do cenário musical: Cássia Eller, Renato Russo, Elis Regina, Janis Joplin, Billie Holyday, Jim Morrison, Jimi Hendrix, Brian Jones, Kurt Cobain, Michael Hutchence, Elvis Presley e por aí vai.
O que diferencia Michael Jackson da pequena lista acima é o fato de ter sido o único (se bem me lembro) que – além de causar mal a si mesmo pelo uso de drogas – mutilou suas feições.
Nem vou me prolongar, neste post, discorrendo sobre o talento inconteste de MJ. Na minha opinião, somente dois nomes citados acima revolucionaram a música dentro de seus estilos.
Elvis Presley e M. Jackson. As alcunhas de Rei do rock e Rei do pop, respectivamente, fazem jus aos artistas. Ambos fizeram mais do que revolucionar o rock e o pop. Eles criaram estilos únicos. Elvis deixou o legado do macacão espalhafatoso e do requebrado hormonal de sua pélvis; Michael abusou de coreografias ousadas e das luvas bordadas com pedras preciosas. Independentemente do gosto do freguês, isso ficará. Essas expressões têm assinatura inconfundível.
O que me deixa cada vez mais desesperançada em relação ao ser humano é, de um lado, a sua fragilidade, a sua debilidade enquanto indivíduo; de outro, sua ferocidade enquanto sociedade. Podemos ser fator de transformação, mas escolhemos ser letais, hobbesianos.
Além da baixíssima autoestima, de uma história pessoal de abusos, Michael Jackson foi vítima de preconceito racial. Ele acreditou, como poucos, numa teoria do branqueamento e não mediu esforços para ser aceito.
Aqui no Brasil, a teoria foi estudada por Sérgio Buarque de Holanda; foi tema de livros, como os de Lima Barreto (O mulato, Clara dos Anjos), e ainda hoje é estudada nos meios acadêmicos.
Skidimore em Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro, afirma que embora o campo intelectual brasileiro, do final do XIX e início do XX, se inspirasse nas teorias racistas européia e norteamericana, não podia negar o alto grau de miscigenação do povo brasileiro e nem pregar uma segregação institucionalizada como fizeram os EUA. “Ao contrário dos EUA, em vez de duas castas (branca e não branca), havia uma terceira casta social bem reconhecida: o mulato. Quanto mais clara a tonalidade da pele, maior sua aceitação na ascensão social.
Daniel Bar-Tal, um dos pioneiros na análise da infra-humanização dos grupos minoritários, afirma:
“Dehumanization involves categorizing a group as inhuman either by using categories of subhuman creatures such as inferior races and animals, or by using categories of negatively valued superhuman creatures such demons, monsters, and satans. Trait characterization is done by using traits that are evaluated as extremely negative and unacceptable to a given society”.
Michael Jackson mais do que um fenômeno de mídia, merece estudo antropológico, sociológico e psicológico. Pode ser um rico objeto de estudo. Mas prefiro pensar que alguém como ele merece também atenção dos nossos olhos humanos, ou do que restou de humanidade em nós, para enxergarmos quão poderosos são nosso julgamento, nossas palavras e a nossa falta de afeto.
Já disse isso uma vez aqui mesmo. Repito: a tolerância não me convém. Não quero tolerar nem ser tolerada. Quero ser digna de respeito.