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segunda-feira, fevereiro 16, 2009

'a eternidade e um dia' (4)

‘A Eternidade e um dia’, um filme de 1998 do realizador grego Theodoros Angelopoulos, conta a história de um escritor com alguma idade, Alexander, que recebe do médico a notícia de que vai morrer no dia seguinte. O guião, escrito em colaboração com Tonino Guerra, relata o último dia do escritor.
Alexander está sentado numa poltrona. É acordado pela empregada, Urania, que lhe diz ‘Hoje é o último dia. Permita-me que o leve ao hospital.’ Alexander recusa e agradece-lhe a dedicação dos últimos três anos. Vai à varanda e observa a envolvente por alguns minutos. Coloca a trela no cão e sai de casa em direcção ao porto de Salónica. Enquanto passeia relembra o passado, o casamento feliz com a Anna já falecida. O dia é cinzento, a atmosfera carregada. Volta a casa, pega no carro e dirige-se ao centro da cidade. Ao parar num semáforo, um rapazinho de blusão amarelo aproxima-se com um limpa pára-brisas na mão à espera de uns trocados. O semáforo abre e de repente uma patrulha policial entra em perseguição do grupo de miúdos, prováveis refugiados Albaneses à procura de pão nas ruas da cidade. Alexander abre a porta do passageiro e grita ao rapazito de amarelo para que entre, livrando-o de ser apanhado pela polícia. Mais à frente, Alexander pára o carro e o rapaz despede-se com um sorriso generoso, grato por tê-lo afastado da confusão.
Dirige-se a casa da filha e pede-lhe que fique com o cão dizendo-lhe que vai de viagem durante algumas semanas. Despede-se levando o cão pela trela sem discutir, após a filha lhe ter negado o pedido e notificado que tinha vendido a casa de férias a uma construtora que iniciaria obras de demolição naquela tarde para a construção de um condomínio. Grande parte das memórias de Alexander, analepses que acontecem periodicamente ao longo do filme, sempre claras e plenas de luz em contraste com a lugubridade do dia da acção, estão intimamente ligadas a essa casa. As recordações de Anna, a infância da filha, a sua mãe, surgem quase sempre no mesmo cenário, como se aquela casa e todos os seus cantos fossem o suporte físico das emoções do escritor.
(continua)

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

'a eternidade e um dia' (3)

A Eternidade e um dia, Theo Angelopoulos

(continua)

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

'a eternidade e um dia' (2)



Stonehenge, Wiltshire, Inglaterra

Lewis Mumford, em ‘A Cidade na História’, aponta a resposta: ‘o respeito que o Homem cedo sentiu pelos mortos, expressão de fascinação por si mesmo, com as suas poderosas imagens de fantasia diurna e sonho nocturno, talvez tenha sido o que o levou a procurar, no princípio, um lugar de reunião fixo e, no futuro, um assentamento permanente’. A morte, diria antes, a consciência humana da morte, deu origem às primeiras obras arquitectónicas – a organização do espaço com uma intenção específica e premeditada para lá de uma resposta construtiva às necessidades biológicas. Mais do que abrigar-se e proteger-se, o Homem sente necessidade de prolongar a sua existência pela matéria, recusando a sua condição mortal e consequentemente a transitoriedade implícita ao funcionamento lógico do universo. Verificamos que desde Carnac e Stonehenge, até à sumptuosidade da arquitectura funerária egípcia, existe uma intenção forte de apropriação da forma ou da imagem como meio de atingir o belo e o imortal. A busca pela eternização da memória através da arte é muito mais do que a recriação ou o registo da beleza que observa, ela é a constatação da natureza narcísica da condição humana, o tal fascínio por si próprio de que falava Mumford. O homem resiste à fugacidade da vida e necessita intrinsecamente do perpétuo, marcando de forma mais ou menos subtil o rasto do seu percurso. É um fenómeno transversal a toda a humanidade, do ocidente ao oriente – uns fazem-no pela força da pedra, os outros pela força da forma.
Lavoisier viveu entre 1743 e 1794. Escreveu uma das frases mais sábias de que há memória, ‘Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma’. Dois séculos passaram e eu pergunto-me se o peso do tempo foi suficiente para que o homem contemporâneo entendesse e interiorizasse o seu real significado. Estaremos nós mais próximos do sentido da frase do químico francês ou daquilo que levou o homem do paleolítico a construir Stonehenge?

(continua)

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

'a eternidade e um dia' (1)

'mia aioniotita kai mia mera'
*
Talvez a transitoriedade seja uma das coisas mais assustadoras e fascinantes da vida. Entenda-se transitoriedade como qualidade do que é transitório, fugaz, passageiro e não como chavão de qualquer doutrina esotérica ou teoria psicanalítica. Tudo obedece à lei básica da natureza e ao funcionamento lógico do universo. Nada é estático, existe movimento na mais ínfima partícula de matéria.
Remetendo esta catadupa cinética para o nosso quotidiano constata-se exactamente o mesmo. Os acontecimentos, as acções, os diálogos, nascem e morrem ao ritmo dos segundos. No entanto, há um processo humano, e intrinsecamente humano, que parece contrariar todo o sentido natural das coisas – a construção das emoções e a forma como elas se vão sedimentando na memória. Há obrigatoriamente um processo de transitoriedade no construir emocional e na forma como ele é apreendido e recuperado por cada indivíduo. O que se viveu no passado não tem no presente o mesmo significado, nem o mesmo peso emotivo de outrora. A reciclagem acontece, mas parece haver um processo que, em certas alturas, bloqueia a engrenagem da máquina natural.
A história da arquitectura poderá ser um argumento interessante para explicar onde pretendo chegar. Parte-se do princípio que a Arquitectura (do grego arché - αρχή - significando "primeiro" ou "principal" e tékton - τέχνη - significando "construção") é a arte, ou a técnica, da criação do espaço organizado.
Muitas vezes, em conversas com amigos, pergunto se sabem onde nasceu a arquitectura. As respostas são invariavelmente as mesmas – nas grutas ou nas cavernas. Errado. As grutas e as cavernas são abrigos naturais, organizados pela própria Natureza e não pela mão do Homem. Alguns estudos apontam que a Terra Amata, um conjunto de cabanas construídas em troncos de madeira, seja a morada artificial humana mais antiga que se conhece, no paleolítico inferior. Se considerarmos a Terra Amata a primeira obra arquitectónica, pela mesma lógica, seríamos obrigados a dizer que as construções executadas por outros animais, que não o homem, constituem arquitectura também. Por esta ordem de ideias, os sistemas construtivos executados por térmitas, ou as conchas e cascas de grande parte dos moluscos são arquitectura, uma vez que respondem às necessidades biológicas dessas espécies tal como as cabanas da Terra Amata respondem às da espécie humana. Talvez o significado de Arquitectura ultrapasse o conceito de organização do espaço como uma resposta biológica e se aproxime daquilo que Leland Roth defende, ‘a arquitectura é uma representação física do pensamento e da ambição do Homem, uma crónica das crenças e dos valores da cultura que a produz’. Há, portanto, um significado mais amplo naquilo que entendemos como organização do espaço.
Introduzindo o conceito de que arquitectura é a organização do espaço com uma intenção específica para além da de protecção ou abrigo, qual será então a primeira obra arquitectónica?

(continua)

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Cínico Optimista

Passaram dez anos desde que li este texto pela primeira vez. Na altura, não sei se prestei atenção suficiente ao conteúdo, mas a impressão geral que tinha do livro e que permaneceu na minha memória era francamente positiva. É sem dúvida um texto carregado de esperança, bom para qualquer aluno que inicia um percurso académico com paixão. O entusiasmo sai sublinhado depois da leitura.
Hoje, e porque me lembrei que no Távora talvez encontrasse uma referência que necessitava, reli-o. No fim de o ler (para dentro) disse à Ana: ‘deixa lá ler-te isto’. E li-o novamente em voz alta. Após a leitura ficou um silêncio um pouco constrangedor no escritório. Perguntei-lhe…’que dizes disto?’. Ela respondeu… ‘é bíblico’… silêncio no escritório novamente. ‘Lê outra vez este parágrafo’ disse-me apontando-o no livro.
Para além da sua preparação especializada - e porque ele é homem antes de arquitecto - que ele procure conhecer não apenas os problemas dos seus mais directos colaboradores, mas os do homem em geral. Que a par de um intenso e necessário especialismo ele coloque um profundo e indispensável humanismo. Que seja assim o arquitecto - homem entre os homens - organizador do espaço - criador de felicidade.
Houve silêncio novamente. Pensei para comigo, e muito de lá de dentro, 'que raio de filha putice nos fez a vida que nos transformou nesta estirpe de cínicos optimistas? Foda-se! Eu queria acreditar nesta merda com o mesmo entusiasmo, a mesma naturalidade, a mesma identificação que senti quando o li há 10 anos atrás e não consigo!'

Sobre a posição do arquitecto
Quereríamos agora, e como epílogo, escrever algumas curtas palavras sobre a posição do arquitecto. Evidentemente que não é ele o único responsável pelo que acontece no espaço organizado, mas atendendo à importância de que a sua posição se reveste nesta matéria não nos parece que estas palavras últimas possam ser despropositadas.
Tal como é, tal o homem organiza o seu espaço; a um indivíduo e a uma sociedade em equilíbrio correspondem um espaço harmónico; a um indivíduo e a uma sociedade em desequilíbrio corresponde a desarmonia do espaço organizado. A forma criada pelo homem é prolongamento dele - com as suas qualidades e com os seus defeitos.
Todo o homem cria formas, todo o homem organiza o espaço e se as formas são condicionadas pela circunstância, elas criam igualmente circunstância, ou ainda, a organização do espaço sendo condicionada é também condicionante.
O arquitecto, pela sua profissão, é por excelência um criador de formas, um organizador do espaço; mas as formas que cria, os espaços que organiza, mantendo relações com a circunstância, criam circunstância e havendo na acção do arquitecto possibilidade de escolher, possibilidade de selecção, há fatalmente drama.
Porque cria circunstância - positiva ou negativa - a sua acção pode ser benéfica ou maléfica e daí que as suas decisões não possam ser tomadas com leviandade ou em face de uma visão parcial dos problemas ou por atitude egoísta de pura e simples satisfação pessoal. Antes de arquitecto, o arquitecto é homem, e homem que utiliza a sua profissão como um instrumento em benefício dos outros homens, da sociedade a que pertence.
Porque é homem e porque a sua acção não é fatalmente determinada, ele deve procurar criar aquelas formas que melhor serviço possam prestar quer à sociedade quer ao seu semelhante, e para tal a sua acção implicará, para além do drama da escolha, um sentido, um alvo, um desejo permanente de servir.
Os seus campos de actividade são múltiplos - porque múltiplas são as facetas do espaço organizado. Projecta e realiza edifícios, dedica-se ao planeamento do território a escalas várias, desenha mobiliário.
Para ele, porém, projectar, planear, desenhar, devem significar apenas encontrar a forma justa, a forma correcta, a forma que realiza com eficiência e beleza a síntese entre o necessário e o possível, tendo em atenção que essa forma vai ter uma vida, vai constituir circunstância.
Sendo assim, projectar, planear, desenhar, não deverão traduzir-se para o arquitecto na criação de formas vazias de sentido, impostas por capricho da moda ou por capricho de qualquer outra natureza. As formas que ele criará deverão resultar, antes, de um equilíbrio sábio entre a sua visão pessoal e a circunstância que o envolve e para tanto deverá ele conhecê-la intensamente, tão intensamente que conhecer e ser se confundem.
E da circunstância deverá ele contrariar os aspectos negativos e valorizar os aspectos positivos, o que significa, afinal, educar e colaborar. E colaborará e educará também com a sua obra realizada.
A sua posição será, portanto, de permanente aluno e de permanente educador; como tal saberá ouvir, considerar, escolher - e também castigar.
Não se suponha ele o demiurgo, o único, o génio do espaço organizado - outros participam também na organização do espaço. Há que atendê-los e colaborar com eles na obra comum.
Para além da sua preparação especializada - e porque ele é homem antes de arquitecto - que ele procure conhecer não apenas os problemas dos seus mais directos colaboradores, mas os do homem em geral. Que a par de um intenso e necessário especialismo ele coloque um profundo e indispensável humanismo.
Que seja assim o arquitecto - homem entre os homens - organizador do espaço - criador de felicidade.

Da Organização do Espaço (FAUP Publicações), Fernando Távora

segunda-feira, setembro 10, 2007

terça-feira, outubro 24, 2006

imagens que se colam ao peito (14)

O meu primeiro contacto com a obra de Helena Almeida foi um daqueles acontecimentos que nos marcam para toda a vida. Faz parte de uma das experiências académicas mais importantes e significativas da minha formação enquanto profissional e enquanto homem. Porque nem tudo no ensino é mau, e há professores que nos marcam profundamente, pessoas que graças à sua singularidade intelectual e a uma entrega apaixonada ao que realmente acreditam, exercem sobre nós um tipo de fascínio que transportamos sob forma de admiração para o resto da vida.


Tela Habitada, 1976, Helena Almeida
Início do ano lectivo. Aula de apresentação do professor e do programa da disciplina de Projecto II. A turma sentada. A banda sonora tradicional, o burburinho característico do início de aula. Poucos alunos: as aulas de apresentação são sempre fastidiosas e não passam de um pró-forma curricular, ninguém dá bola. Uma mulher dos seus trinta e picos entra na sala, dirigindo-se para a secretária junto ao quadro negro. A turma silencia, provavelmente é a professora. Um auxiliar entra na sala transportando um projector de imagens enquanto a mulher retira de uma pasta duas gavetas de diapositivos. Agradece ao auxiliar e sorri à turma enquanto este se retira. Monta o estaminé. Percorre a turma com o olhar e solta novo sorriso. Diz: “Boa tarde a todos, o meu nome é Teresa Novais, e serei a vossa professora nas aulas práticas desta disciplina.” Pede aos alunos do fundo da sala para desligar as luzes e inicia a sua apresentação. Durante cerca de uma hora toda a turma permanece em silêncio. Não há qualquer tipo de murmúrio com o vizinho do lado. Percorro a turma com o olhar e os meus colegas escutam aquela mulher com o mesmo entusiasmo e mesmo fascínio com que eu a escuto. Passam imagens de várias obras de arquitectura (a Casa de Ofir do Távora é uma das que me lembro), desenhos académicos da Alison e do Peter Smithson, uma fotografia interessantíssima da Faculdade de Arquitectura de São Paulo, em que uma multidão de alunos discute e troca argumentos sobre vários trabalhos expostos debaixo do grande átrio desenhado pelo Vilanova Artigas, passa uma imagem do estúdio da Lina Bo mais um desenho hiper rigoroso do projecto de execução do museu do Siza na Galiza, um trecho do manifesto do Gropius, fala-se de multidisciplinaridade, da importância da arte e da história, fala-se de pesquisa, de descoberta, fala-se de paixão, de entrega, explica-se e ilustra-se que não há apenas uma forma ou um caminho, potenciam-se as possibilidades desde que perseguidas de forma honesta, fala-se de rigor, de discussão, de não esconder os trabalhos dos colegas, fala-se de abertura e de coerência. A aula termina com um grito, um pedido, uma espécie de prece escrita em letras garrafais sobre um plástico que parece abafar uma mulher: OUVE-ME, diz a prece… OUVE-ME. Eu penso que ouvi e que ainda não me esqueci das palavras. Obrigado.

Nota: Esse grito, essa imagem extremamente poderosa foi retirada do filme ‘Ouve-me’ de 1979, onde Helena Almeida executa uma performance de cerca de quatro minutos. Não consegui encontrar na web uma reprodução da obra com o tamanho que pretendia, daí ter optado por ilustrar o post com a série ‘Tela Habitada’. A melhor reprodução que consegui encontrar de ‘Ouve-me’ pode ser vista aqui.

segunda-feira, outubro 16, 2006

modernismo = revolução [?]

António, ainda sobre aquela conversa do Modernismo ter constituído ou não uma revolução, tenho encontrado novos argumentos que fundamentam e alargam a minha opinião nalgumas leituras que ando a fazer. Passo a citar, está implícito:


'Composition with red, yellow, blue and black', 1921, Gemeentemuseum, Haia, Holanda, Piet Mondrian


“Sem dúvida, todas as grandes obras artísticas do passado inovaram sempre de uma maneira ou de outra, introduzindo aqui e ali a derrogação dos cânones em vigor, mas é apenas neste fim de século [séc. XIX] que a mudança se torna revolução, ruptura clara na trama do tempo, descontinuidade entre um antes e um depois, afirmação de uma ordem resolutamente outra. O Modernismo não se contenta com produzir variações estilísticas e temas inéditos, quer romper a continuidade que nos liga ao passado, instituir obras absolutamente novas. Mas o mais notável ainda é que a raiva modernista desqualifica, no mesmo impulso, as obras mais modernas: as obras de vanguarda, logo depois de produzidas, tornam-se retaguarda e afundam-se no déjà-vu; o modernismo proíbe o estacionamento, impõe a invenção perpétua, a fuga para diante, e é essa a «contradição» que lhe é imanente: «A modernidade é uma espécie de auto-destruição criadora… a arte moderna não é somente filha da idade crítica, mas crítica de si própria». Adorno dizia-o de outra maneira: o modernismo define-se menos por declarações e manifestos do que por um processo de negação sem limites e que, por isso, não se poupa a si próprio: a «tradição do novo», fórmula paradoxal do modernismo, destrói e desvaloriza inelutavelmente aquilo que institui, o novo inclina-se de pronto na direcção do antigo, nenhum conteúdo positivo é já afirmado, sendo a própria forma de mudança o único princípio que governa a arte. O inédito tornou-se o imperativo categórico da liberdade artística.”

A Era do Vazio (Relógio D’Água), Gilles Lipovetsky

Ps. A conversa sobre as torres de cristal não está esquecida, mas tenho tido pouco tempo para me dedicar ao assunto como gostaria. Mais tarde ou mais cedo alguma coisa há-de aparecer por aí…

sexta-feira, outubro 06, 2006

obrigado Fátima... obrigado Luís!

(foto de Luís Monte) Seagram Building, 1958, New York, EUA, Mies van der Rohe

A Fátima e o Luís estiveram em N.Y. na última semana. Como são pessoas generosas lembram-se sempre dos amigos e eu fui um dos contemplados com as suas traduções de carinho e amizade. O Luís fez-me o favor de fotografar o Seagram Building, um edifício que eu gosto bastante (para não dizerem que eu não gosto de torres e que a tipologia é bode expiatório para os problemas da arquitectura, como o quiseram fazer crer numa conversa sobre o tema que se desenvolveu nalguns blogues de arquitectura). Eu questiono se hoje em dia faz algum sentido construir em densidade, questiono também a quantidade astronómica de energia e os custos elevados necessários à sobrevivência de edifícios com estas características, numa era em que sabemos que os recursos energéticos fósseis se esgotam e a tecnologia para o aproveitamento das energias renováveis não está tão desenvolvida como pretendíamos. Em 1958, e reafirmo, em 1958, um edifício desta natureza no centro de Manhathan fazia todo sentido, e hoje fá-lo como legado da história da arquitectura do séc. XX.. Agora levanto a questão, faz algum sentido construir um edifício com estas características em Basileia, na Suíça, em pleno séc. XXI? (Cá para nós, se tivesse metade da elegância do Seagram ainda argumentaríamos... assim, façam-me o favor!...) Se me perguntarem o que penso sobre o edifício na foto em cima, digo simplesmente que o considero fantástico (por mil e um motivos que se fizerem questão eu explico num outro post), se me perguntarem se isto faz algum sentido nos dias de hoje, eu mantenho a minha: Não! É idiota! É absurdo! (por muitas razões que eu também posso explicar, se quiserem).

segunda-feira, outubro 02, 2006

em jeito de comemoração...

...do Dia Mundial da Arquitectura, publico no blogue imagens e desenhos de dois edifícios que me são muito caros, projectos que traduzem literalmente o 'imaginar a evidência' de que nos fala o Álvaro Siza... um de cá, outro de lá, em sincronia...
ps. a música da Elis não é por acaso.

quarta-feira, setembro 13, 2006

...ainda sobre os modernos

Vista interior de um apartamento, Cité Radieuse, 1953, Marselha, França, Le Corbusier
A dúvida questionava o carácter revolucionário (ou não) do Modernismo enquanto estilo, e se existiria (ou não) corte epistemológico com a história. Há quem defenda que o Modernismo não é mais do que a “cristalização dos sintomas que desde o Renascimento se fizeram sentir”, o que tem a sua lógica, até porque nenhum estilo ou corrente artística se faz em tabula rasa, é sempre o produto, o somatório, a “cristalização” ou condensação de uma série de condicionantes, que em determinado intervalo de tempo parecem fazer sentido como resposta aos problemas e necessidades que lhe são impostas. (Por essa ordem de ideias não haveria nunca corte epistemológico de qualquer movimento artístico com a história, até porque todos nascem da história. Nem mesmo Michelangelo “às suas costas e às suas custas” o conseguiria fazer.) Outros há, como eu, com dúvidas acerca desse carácter diluído e disseminado do Modernismo na história, assim como da sua atitude não revolucionária.
Façamos novamente a pergunta: o Modernismo constitui ou não uma Revolução?
Se exceptuarmos o argumento que usei atrás, de que qualquer movimento artístico é um produto da história, excluindo, portanto, a possibilidade de um corte epistemológico com ela, existem ainda assim várias hipóteses que nos levam a crer que o Modernismo constituiu realmente uma Revolução.
Algumas delas já foram enumeradas pelo António no ‘odespropósito’ quando destaca alguns autores independentes e anteriores ao movimento como A. Loos, Voysey ou Plecnik como “feridas aberta(s) na linearidade da leitura da história”. Podíamos ainda falar do espírito corporativo e associativo dos arquitectos modernistas, da sua ortodoxia, dos seus princípios, da ambição de criarem uma arquitectura iminentemente nova, a primeira a condensar em si os ideais iluministas de Kant e Rousseau e as preocupações ideológicas (à esquerda e à direita) de uma sociedade industrializada. Mas, o que na minha opinião faz do Modernismo um movimento revolucionário é exactamente o que faz de qualquer outro estilo uma revolução: uma abordagem espacial iminentemente nova. O JMAC, que defende o carácter não revolucionário do Modernismo, num dos seus textos do HardBlog toma este argumento como válido em relação ao Gótico: “Confirmar o Gótico, que, mais que um estilo, seria um “sistema construtivo”, que articulava as necessidades espirituais com as possibilidades construtivas. Sem fazer épicas digressões históricas mas dando uso a uma fina inteligência intuitiva que ainda hoje surpreende.
A revolução modernista está muito mais nas características dos seus espaços do que na vontade de romper com o passado ou nos discursos eloquentes e reaccionários dos seus precursores. O espaço modernista é o espaço específico por natureza, a forma existe para responder à função (seja ela material ou ideológica). O Siza, ainda na última entrevista ao JA, dizia isto muito claramente quando comparava os espaços modernos à casa palladiana: “O Movimento Moderno estabeleceu – a partir de um ponto de vista analítico e cientifico – os usos com uma especialização total. Tudo estava sujeito aos movimentos interiores e aos equipamentos domésticos necessários. Na casa palladiana não há especialização dos espaços, logo existe uma grande flexibilidade”. A verdadeira revolução dos modernos, na minha opinião, nasce a partir desta tipologia espacial verdadeiramente nova e em ruptura com o passado. O espaço doméstico moderno, e centremo-nos apenas nesta tipologia para não dispersar, é significativamente diferente dos anteriores. É o espaço que pede ao observador um cálculo em vez de uma emoção, uma avaliação objectiva em vez de uma atitude subjectiva de admiração como diz Benévolo num dos seus livros. Não estamos neste momento a estabelecer qualquer juízo sobre as aptidões ou falhanços da arquitectura moderna, seria uma outra conversa. A revolução é exactamente a tal “especialização moderna” dos espaços, o funcionalismo, o racionalismo abstracto, o ‘modulor’ e menos o carácter panfletário e propagandista de Le Corbusier ou dos mestres da Bauhaus.
Esta conversa fez-me lembrar de uma aula com o professor H. Bonifácio onde se colocava a questão de o Manuelino poder ou não ser considerado um estilo arquitectónico independente ou se deveria ser considerado um Gótico tardio. Depois de analisarmos os Jerónimos, uma análise profunda sobre o espaço, sem nos preocuparmos com as decorações alusivas às descobertas ou às proezas nacionais, chegamos à conclusão que o edifício, era ele próprio, uma revolução.

terça-feira, setembro 05, 2006

“Lar doce Lar”

No último número do Jornal dos Arquitectos, o “Vírus”, secção editada por uma equipa exterior ao jornal mas escolhida pela direcção e pelos editores do JA, apresenta os resultados de um questionário sobre a “Morada”, tema central desta edição. O autor do “Vírus”, João Bártolo, diz-nos no texto que introduz o questionário, que “a escolha dos questionados tentou ser o mais diversa, dentro do espaço possível” das “16 páginas” que constituem o caderno. Uma das questões colocadas é a actividade profissional dos inquiridos. Passo a enumerar as respostas: Fotógrafa; Assistente Administrativa; Conservadora de Museus; Professor do 2º Ciclo da disciplina de Educação Visual e Tecnológica; Estudante PhD; Reformada da Função Pública; Actor/Escritor; Professora/Produtora Cultural; Licenciado em Direito; Artista/Designer/Professora; Escritora Freelancer; Ocioso; ou seja, actividades profissionais que representam de forma significativa o panorama socio-económico português. Honestamente, um questionário aos ‘amigos’ não pode nunca ser um objecto de estudo rigoroso digno de qualquer tipo de conclusão por parte dos leitores. Ás vezes pretendem-se artigos mais sérios e idóneos.

quinta-feira, agosto 31, 2006

deus me livre de sujar o chão

Casa Pawson (1999), Londres, Reino Unido, John Pawson

Estes dias visitei um colega de trabalho que não via há imenso tempo. Tomámos café e entretanto ele convidou-me para acompanhá-lo ao seu atelier onde me mostrou alguns dos seus últimos projectos. Um dos projectos em questão, uma moradia unifamiliar, encontrava-se já concluído e habitado pelos clientes. O meu colega começou por mostrar-me os desenhos do edifício e a maquete, depois fotografias do decurso da obra, relatando algumas das dificuldades que surgiram durante a execução e as voltas necessárias para que fossem resolvidas, e finalmente, fotografias da obra concluída, antes e depois de ser habitada. A certa altura, quando me mostrava uma fotografia do hall de acesso ao piso dos quartos, faz-me a seguinte observação “não repares na tapeçaria que a fulana colocou na parede do hall, mas sabes que esta gente é perita em destruir os projectos”. Perguntei-lhe, “incomoda-te que as pessoas colonizem os espaços que projectas?” ao que ele me respondeu “não, não me incomoda de todo. Fico é furioso quando não têm o mínimo de tacto para decorar a casa”. Eu continuei: “mas já te passou pela cabeça que aquela tapeçaria, que eu também acho pirosa, possa ser um objecto de grande importância afectiva para a tua cliente e que ela possa realmente apreciá-lo de uma forma que a nós nos incomoda?” e prossegui: “sabes, a mim não me incomoda nada a forma como as pessoas se apropriam dos espaços, seja ela brega ou sofisticada; essa colonização, essa infecção dos espaços que tínhamos para nós como invioláveis até me agrada. As salas, os quartos, espaços que não eram mais do que a materialização de ideias abstractas na nossa cabeça, ganham corpo, adquirem uma história, ganham finalmente aquela simbologia que o Bachelard nos fala n’A Poética do Espaço. Sabes, agrada-me que isso não esteja sobre o nosso controlo. A sensação que tenho é que o projecto é tanto melhor quanto mais extensa é a permissão dessa colonização, por muito desinteressante que ela nos possa parecer. É um sinal de que a arquitectura se adapta, de que possui a flexibilidade suficiente para responder às necessidades, vontades, ou caprichos (que parece ser o caso) daqueles que a habitam. Poderás dizer-me que as fotografias não são equilibradas, ou que se te aparecer oportunidade de publicação da obra numa revista da especialidade vais usar as fotografias pré-colonização. Eu compreendo que as uses, e talvez fizesse o mesmo. Tenho para mim que muito raramente trabalhamos para quem nos encomenda o projecto. Os nossos exercícios não são mais do que uma resposta à ditadura do gosto e da linguagem, a nossa principal preocupação enquanto arquitectos não é agradar o cliente, é antes que o nosso trabalho seja respeitado e valorizado pelos nossos colegas. Não achas isso?” Ele respondeu-me: até certo ponto concordo contigo, mas o que é certo é que a tal ‘colonização’ que falas acaba muitas vezes por desvirtuar completamente as intenções e os princípios que nos levaram à concepção daquele espaço.” Eu peguei no exemplo do John Pawson e disse-lhe: “se me perguntares, como arquitecto, se eu aprecio as obras do Pawson, eu digo-te prontamente que sim. E mais, até te digo porquê. Gosto daquela austeridade formal, gosto da ausência do desnecessário, agradam-me aqueles espaços ascéticos, silenciosos… aprecio sobretudo a sobriedade com que tudo é executado. Se equacionarmos exclusivamente a questão da linguagem e da proximidade estética, digo-te muito prontamente que me sinto mais próximo de um Pawson do que de um Libeskind ou de um Gehry por exemplo. No entanto, e apesar da sedução que as imagens do John Pawson exercem sobre mim e de ter em relação ao seu trabalho uma sensibilidade compatível, digo-te que aquilo é má arquitectura.” Ele olhou-me espantado, provavelmente indignado com aquilo que eu estava a dizer. Eu continuei: “Uma arquitectura que não permite um copo de água entornado no chão, um prato sujo na pia, uma pessoa sentada no sofá, um quadro que se trouxe da viagem não sei onde na parede, uma arquitectura que não permite que um cão se sente na carpete ou que o gato salte para a mesa da cozinha, não pode nunca ser uma boa arquitectura, ou pode? Imagina as composições perfeitas e equilibradas do Pawson com a simples presença humana, nem precisa de ser uma pessoa mal vestida, imagina uma mulher ou um homem, elegantes e sofisticados, sentados no sofá branco da casa Pawson em Londres… não te parece que a simples presença humana naquele espaço o desequilibra, o torna horrendo? Penso não ser por acaso que as monografias do Pawson nunca trazem fotografias dos espaços com a presença humana. Tenho para mim que ele tem consciência do desequilíbrio que elas criam nos seus espaços e, portanto, como era de se esperar, as exclui. Tudo é um negócio, meu caro, e o Pawson vende sonhos, sonhos belíssimos… eu até admiti que os ‘como’ também… mas aquilo é tudo menos uma arquitectura real. Tu perguntavas-me há pouco se eu não achava que a colonização dos espaços pelas pessoas desvirtuava (ou corria o risco de desvirtuar) os espaços que projectamos, eu respondo-te que virtuais são os espaços do Pawson, por muito belos que sejam, por mais equilibrados que nos possam parecer.” Terminámos a conversa com ele a dizer-me que tinha que reflectir melhor sobre aquilo que eu lhe estava a dizer.

quinta-feira, junho 29, 2006

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*[Reunião de Obra #003 - Tema: Indústria - Unidade Industrial da Inapal Plásticos, Autoeuropa, Palmela - Francisco Vieira de Campos do atelier Guedes deCampos]
De 29 Junho até 17 Setembro de 2006 - Museu dos Transportes e Comunicações, Alfandega, Porto3ª a 6ª 10h00-12h00 e 14h00-18h00 Sábado e Domingo 15h00-19h00

Terá lugar hoje, dia 29 de Junho, às 21h30, no Museu dos Transportes e Comunicações, a inauguração da exposição Reunião de Obra #003 Indústria, dedicada à unidade industrial da Inapal Plásticos, Autoeuropa, em Palmela, da autoria de Francisco Vieira de Campos do atelier Guedes deCampos.
A abertura da exposição será precedida de uma conferência / debate com a presença do arquitecto autor do Projecto e de alguns dos intervenientes no processo da obra, nomeadamente Eng.º Rui Furtado, da AFA Consult, engenheiros Dina Pascoal e Alberto Machado, da Blocotelha, e Gonçalo Sousa Soares e Joana Neves Silva, da AFA Plan, Dr. João Vieira de Campos, da Inapal Plásticos.
O debate será moderado pelo arq. Luís Tavares Pereira, em representação do Pelouro da Cultura da OA-SRN.
*texto integralmente retirado do boletim informativo da Ordem dos Arquitectos.

sexta-feira, junho 23, 2006

Do gostar de arquitectura

Maison à Lège, 1998, Cap Ferret, França, Lacaton & Vassal
Desde a entrevista que a Ana Sousa Dias fez à arquitecta/artista Françoise Schein no programa ‘Por Outro Lado’ da Dois, que eu não ouvia/lia um discurso e uma abordagem à arquitectura tão interessantes como os que pude constatar na entrevista que José Adrião e Ricardo Carvalho fizeram aos franceses Lacaton & Vassal na última edição do Jornal dos Arquitectos.
Uma das coisas que mais me incomoda em arquitectura é a linguagem extremamente abstracta e convencional que os arquitectos utilizam na explicação dos conceitos e ideias que sustentam os seus trabalhos. Não é raro escutarmos em conferências termos como, escala, desenho, forma, volume, eixo, simetria, assimetria, fio condutor, espacialidade, percurso, textura… (podíamos continuar por aí adiante), palavras caríssimas à classe e que pouco ou nada dizem ao cidadão comum, que é, nada mais nada menos, o destinatário e usufruidor final das obras de arquitectura. Lembro-me de há uns 3 ou 4 anos atrás ter frequentado um seminário de três dias sobre critica de arquitectura e de, em cerca de 15 emissores, notar que apenas um ou dois tinham uma preocupação declarada em relação às pessoas, aos cidadãos anónimos que “consomem” as obras dos arquitectos. Todos os outros preocuparam-se mais em justificar os seus princípios e conceitos aos colegas do que em pensar uma arquitectura que responda com inteligência às necessidades reais do cidadão comum.
É exactamente por contrariar essa tendência, que o discurso da dupla de arquitectos franceses Lacaton & Vassal me fascinou. Já conhecia alguns dos seus trabalhos do tempo da faculdade, como a casa Latapie, na altura exposto por uma das melhores professoras que tive, a arqª. Teresa Novais. A simplicidade construtiva, as preocupações sempre presentes de conforto e bem-estar, a adequação da arquitectura às necessidades reais das pessoas que a vão usar e habitar, foram temas explorados na altura e que hoje tive oportunidade de rever enquanto lia a entrevista do JA. Mas houve outros aspectos que me marcaram imenso e que só encontro paralelo quando me debruço sobre o trabalho de alguns arquitectos latino-americanos ou europeus que trabalharam nesses países, como Barragán e Lina Bo Bardi (pós estilo-internacional) e Jorge Mário Jáuregui, Manoel Ribeiro e Françoise Schein (contemporâneos), e que se prendem com ideias de optimismo, sustentabilidade, reciclagem e colonização do espaço por aqueles que o utilizam. O posicionamento de Jean Philippe Vassal em relação aos grandes aglomerados dos subúrbios de Paris é muito elucidativo: “Demonstramos que em termos económicos era muito vantajoso, já que com metade do dinheiro podíamos fazer duas vezes mais edifícios e ao mesmo tempo optimizávamos as condições dos edifícios existentes, pela sua transformação. (…) Insistimos principalmente na questão dos edifícios. A maior parte dos arquitectos ou urbanistas pensa que o espaço público é o grande problema, mas nós pensamos que todos os projectos têm que começar no interior dos edifícios. (…) Dentro dos edifícios cada família torna-se cliente. É necessário ir a cada piso e perceber quais são as necessidades quer individuais quer comunitárias. (…) É portanto, fazer o trabalho a partir do existente, de modo bastante delicado, mesmo com pessoas a viver aí, tentar incomodá-los o mínimo possível e pensar que a solução vai sempre ser encontrada. (…) O que quero dizer é que é necessário ser optimista. É muito mais importante ver as coisas positivas que existem do que as negativas. Encontrar soluções para resolver os pontos negativos e manter as coisas boas que existem e reforçá-las.” Todo este discurso fez-me lembrar de um dos períodos mais bonitos da arquitectura portuguesa, na época do SAAL (Serviço Ambulatório de Apoio Local), que infelizmente morreu com o arrefecer da euforia pós-revolução. Apesar de tudo, continuo a acreditar que com pouco pode-se fazer muito (já diziam os Índios da Meia Praia). Para concluir, cito a parte que mais me tocou de toda a entrevista, e que foi um dos testemunhos mais bonitos que li sobre esta profissão: “De facto, não estamos muito preocupados na questão da obra, da obra do arquitecto. Para mim o que é mais importante é o que se faz ou fez durante a vida, e o modo como se trabalhou, muito mais do que considerar um projecto em particular como uma obra ou se esta dura ou não para a eternidade.” Mais à frente acrescenta: “A Arquitectura pode ser uma coisa leve, suave, gentil e precisa.”

segunda-feira, maio 01, 2006

sábado, abril 29, 2006

opção ou capricho?

Siza Vieira, é talvez, o arquitecto português que mais respeito. A lógica dos seus projectos traduz-se numa narrativa poética, coerente e de um virtuosismo difícil de igualar. Por isso mesmo, há coisas que me são completamente impossíveis de compreender, como a "granitada" que vai trepando pelos Aliados acima, pontuada ao acaso por tampas de saneamento (ainda por cima feias... pergunto-me pelo rigor do projecto de execução) e a mais recente polémica sobre o abate de árvores centenárias previsto na reforma do Passeio do Prado. Há opções de projecto que, no meio de uma linguagem e discurso tão coerentes, me ultrapassam.

sexta-feira, abril 07, 2006

they laugh at me 'cause the way I talk... (1)

...CONTINUA...
título e sublinhados meus, vale a pena ler com atenção, trata-se de uma das melhores peças de humor que li ultimamente

quinta-feira, janeiro 26, 2006

relembrando

Ontem apareceu-me às mãos a Carta de Guadalajara, assinada em 85 pelo Barragan e o Urzúa. Dizia que a meta final da arquitectura é proporcionar bem-estar e felicidade ao homem, dizia que a arquitectura deveria ser humanista na sua essência (“Temos que resgatar para o habitat humano o equilíbrio essencial, a escala, a ordem, o amor, a poesia e essa comunicação* perdida pelo homem.”). À velocidade que as coisas se têm processado ultimamente, em que os experimentalismos formais sucedem-se em catadupa e as revistas da especialidade fazem o favor de nos bombardear com imagens apelativas a todo instante, faz-nos bem relembrar isto.
Há um mal geral na sociedade contemporânea, e não creio que seja apenas na arquitectura, uma espécie de preguiça em reflectir. Ninguém tem tempo para a reflexão, ou então encara-a como algo cansativo que pode arruinar num segundo o trabalho que se teve a engavetar determinados assuntos. É mais fácil varrer para debaixo do tapete. Próximo!

* referia-se à comunicação com a Natureza.