São Pedro amanheceu alvoroçada e monotemática. O eclipse dominou todas as conversas do povoado, do mais velho ao mais jovem.
Às 7 horas da manhã, o sino da igreja badalou anunciando a primeira missa do dia. Nem mesmo o sermão de Pe. Miguel escapou de referenciar o fenômeno. Por mais que ele tentasse explicar não havia jeito.
Os mais idosos estavam temerosos, pois ainda guardavam consigo antigas crendices escatológicas. A meninada queria ficar acordada para ver a lua tingir-se de vermelho.
Naquele dia, apenas eu e mamãe fomos à Igreja. Saímos cedo, sorrateiramente, para que a bisa não notasse. Mamãe não dava ouvidos às manias da cidade e para não exasperar a bisa e nem contrariar suas regras, preferiu não ser vista.
Quando voltamos da missa, a casa estava toda fechada. Apesar do imenso calor, as janelas estavam cerradas, as cortinas baixas, portas chaveadas. Diante do oratório, a bisa rezava o terço pedindo misericórdia à Virgem Maria para que “São Pedro não acabasse em chamas”. Tia Margarida andava de um lado para o outro da casa e atrás dela vovó Totonha com um copo de água com açúcar:
- Bebe, Guida, vai te acalmar.
Eu não entendia porque um simples eclipse causava tanto desequilíbrio na rotina de todos. Tudo o que eu mais queria era pegar minha bicicleta e rumar para a clareira quando chegasse a hora. Queria observar tudo de perto.
À noite, após o jantar, levantei-me depressa da mesa e fui caminhando em direção ao quintal. A bisa puxou meu braço e perguntou:
- Onde é que a mocinha vai?
- Guardar a bicicleta – respondi gaguejando, sinal evidente da minha mentira.
- Ninguém sai de casa hoje, Olívia.
- Mas bisa, eu combinei de encontrar a turma na clareira.
- Amanhã, Olívia. Amanhã.
Chateada, fui para o quarto. Foi assim que perdi o primeiro eclipse da minha vida.
Às 7 horas da manhã, o sino da igreja badalou anunciando a primeira missa do dia. Nem mesmo o sermão de Pe. Miguel escapou de referenciar o fenômeno. Por mais que ele tentasse explicar não havia jeito.
Os mais idosos estavam temerosos, pois ainda guardavam consigo antigas crendices escatológicas. A meninada queria ficar acordada para ver a lua tingir-se de vermelho.
Naquele dia, apenas eu e mamãe fomos à Igreja. Saímos cedo, sorrateiramente, para que a bisa não notasse. Mamãe não dava ouvidos às manias da cidade e para não exasperar a bisa e nem contrariar suas regras, preferiu não ser vista.
Quando voltamos da missa, a casa estava toda fechada. Apesar do imenso calor, as janelas estavam cerradas, as cortinas baixas, portas chaveadas. Diante do oratório, a bisa rezava o terço pedindo misericórdia à Virgem Maria para que “São Pedro não acabasse em chamas”. Tia Margarida andava de um lado para o outro da casa e atrás dela vovó Totonha com um copo de água com açúcar:
- Bebe, Guida, vai te acalmar.
Eu não entendia porque um simples eclipse causava tanto desequilíbrio na rotina de todos. Tudo o que eu mais queria era pegar minha bicicleta e rumar para a clareira quando chegasse a hora. Queria observar tudo de perto.
À noite, após o jantar, levantei-me depressa da mesa e fui caminhando em direção ao quintal. A bisa puxou meu braço e perguntou:
- Onde é que a mocinha vai?
- Guardar a bicicleta – respondi gaguejando, sinal evidente da minha mentira.
- Ninguém sai de casa hoje, Olívia.
- Mas bisa, eu combinei de encontrar a turma na clareira.
- Amanhã, Olívia. Amanhã.
Chateada, fui para o quarto. Foi assim que perdi o primeiro eclipse da minha vida.
3 comentários:
Ah, minha querida
e a quantos eclipses a gente se esconde por querer mesmo, depois, bem depois que a bisa nos deixa?
Beijo na alma tua. bom findi
o bom é que os eclipses repetem-se
um beijo minha querida
Minha Lia querida... sempre há tempo de nos entregarmos à visão de outros eclipes... este último, eu assisti da janela de casa. Fiquei hipnotizada. Sabes o poder que a lua tem sobre mim. Beijo.
Meu Vítor, sim, os eclipses repetem-se, mas são sempre outros. Compreendo a frustração de Olívia. Além do eclipse, havia a farra com a meninada do povoado... mas não pode-se ter tudo, não é? Acho que ela está aprendendo.
Outro beijo.
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