sexta-feira, março 30, 2007

a história que te conto (5) (último)

fugi de casa para outro lugar.
as paredes não choravam,
não gemiam nem gritavam,
permaneciam em silêncio
desde que dentro do copo
passou a existir uma só escova
de dentes. silêncio apenas…
por vezes mágico, por vezes
ensurdecedor… silêncio
como a última e inestimável
linguagem dos que amam…
a história que te contava
fugiu-me das mãos como
uma profecia, atropelou-me
e pregou-me ao presente sem
aviso. logo a mim… que não
acreditava nos profetas!
rendi-me. aceitei de uma
vez por todas os sinais.
forcei-me à contemplação
das marés místicas que nos
envolvem com mantos tingidos
de mistério: porque talvez os
anjos existam, porque a
provarem-se põe-se a hipótese
de conspirarem a iminência
dos futuros. fugi de casa.
procurei refúgio no monte
que te falei. lá permanecerei
até que o silêncio me doa
infinitamente e o coração
me rebente de amor. fugi
para o eterno lugar, Olimpo,
casa-mãe da existência.
tenho Héstia sentada na
pedra à minha direita.
olha-me como um aprendiz
mas não faço caso…
prometi entregar-me aos
seus ensinamentos de forma
séria e dedicada. como
sacrifício cortei a língua e
entreguei-lha… depois selei
os lábios e permaneço mudo
desde então. ainda pensei
sacrificar o coração mas sei
que não suportaria a prova;
as promessas cumprem-se.
sentado escuto com atenção
a história que ela me conta.

1 comentário:

Luciana Melo disse...

Meu Vítor, o que dizer diante da eloqüência deste 'episódio'? Há tantas profundezas nas tuas palavras que não me sinto capaz de ferir seus sentidos com meus comentários... calo-me e contemplo, porque escuto o grito de cada uma delas.
Amor.