Minha Lu,
Percebo perfeitamente a tua dificuldade em encontrar palavras para me preencheres o coração de carinho. Eu teria dificuldade idêntica. Mas não te apoquentes… a tua luz e a tua presença são suficientemente fortes para me fazerem olhar a vida com ternura.
Sabes, minha querida, tenho-me convencido (e parece-me que de forma definitiva) que não existe nada mais real do que a solidão, ainda que em alguns momentos da nossa vida ela possa ser abraçada por outras solidões que gravitam no mesmo espaço e na mesma frequência.
Não há fusões, somos inevitavelmente seres independentes. Tocamo-nos, beijamo-nos, abraçamo-nos, olhamo-nos, mas não há casa, por mais generosa que seja, capaz de abrigar o ‘eu’ e o ‘outro’. Sofremos todos do síndrome do ilhéu. Das nossas praias podemos avistar outras, a nossa perspectiva pode até assemelhar-se a um diaporama maravilhoso de todo o arquipélago, mas jamais deixamos de ser uma unidade rodeada de água por todos os lados.
Não é com sofrimento ou pessimismo que constato isto. Sabes que sou optimista por natureza. Mas talvez, erradamente ou porque me forçaram a acreditar, eu tenha imaginado que o amor era capaz de transformar duas ilhas numa ilha só. O amor como uma espécie de vulcão nascido do fundo do mar que vai jorrando lava continuamente até formar um território virgem capaz de nos ligar à ilha mais próxima.
Assim como no ventre da mãe, dois gémeos siameses ligados por uma qualquer parte do corpo e protegidos pela mesma placenta vão desenvolvendo cada um o seu coração, também a nossa ilha, ainda que ligada a outra pela força de um vulcão, encerra em si os seus próprios segredos, a sua individualidade marcada pela idade das rochas e dos troncos das árvores. Não temos o direito de ambicionar ter, possuir, conquistar o que não é nosso por natureza… parece-me um facto.
Despeço-me com um beijo enorme e com a promessa de continuar esta confissão, que fica assim em reticências, até que o trabalho me dê algum descanso e me permita continuá-la do modo que pretendo.
O teu Vítor.
Percebo perfeitamente a tua dificuldade em encontrar palavras para me preencheres o coração de carinho. Eu teria dificuldade idêntica. Mas não te apoquentes… a tua luz e a tua presença são suficientemente fortes para me fazerem olhar a vida com ternura.
Sabes, minha querida, tenho-me convencido (e parece-me que de forma definitiva) que não existe nada mais real do que a solidão, ainda que em alguns momentos da nossa vida ela possa ser abraçada por outras solidões que gravitam no mesmo espaço e na mesma frequência.
Não há fusões, somos inevitavelmente seres independentes. Tocamo-nos, beijamo-nos, abraçamo-nos, olhamo-nos, mas não há casa, por mais generosa que seja, capaz de abrigar o ‘eu’ e o ‘outro’. Sofremos todos do síndrome do ilhéu. Das nossas praias podemos avistar outras, a nossa perspectiva pode até assemelhar-se a um diaporama maravilhoso de todo o arquipélago, mas jamais deixamos de ser uma unidade rodeada de água por todos os lados.
Não é com sofrimento ou pessimismo que constato isto. Sabes que sou optimista por natureza. Mas talvez, erradamente ou porque me forçaram a acreditar, eu tenha imaginado que o amor era capaz de transformar duas ilhas numa ilha só. O amor como uma espécie de vulcão nascido do fundo do mar que vai jorrando lava continuamente até formar um território virgem capaz de nos ligar à ilha mais próxima.
Assim como no ventre da mãe, dois gémeos siameses ligados por uma qualquer parte do corpo e protegidos pela mesma placenta vão desenvolvendo cada um o seu coração, também a nossa ilha, ainda que ligada a outra pela força de um vulcão, encerra em si os seus próprios segredos, a sua individualidade marcada pela idade das rochas e dos troncos das árvores. Não temos o direito de ambicionar ter, possuir, conquistar o que não é nosso por natureza… parece-me um facto.
Despeço-me com um beijo enorme e com a promessa de continuar esta confissão, que fica assim em reticências, até que o trabalho me dê algum descanso e me permita continuá-la do modo que pretendo.
O teu Vítor.
3 comentários:
Tu bem sabes que estou sempre ao teu alcance, ao teu lado.
Em breve te respondo.
Beijo grande,
Tua Lu
Vitor, querido
a vida - pelo bem ou pelo mal - é um lugar onde se chega só e sozinho se parte.
Beijo na tua alma, querido
minha Lu, como eu sei isso...como sei!
cecília, sabem tão bem esses teus beijos...
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