Não me esqueci de semear palavras nem de regar amizades. Não esqueci, eu nunca me esqueço. Mas sabem essas fases que a vida nos engolfa? Sabem esses espaços, espamos de silêncio íngreme e tempos áridos? Ando desejosa de um oásis e esfaimada pelo ócio.
Mas também há momentos em que a vida afrouxa o laço e nesse exato momento de distração, fugi das amarras dos compromissos e fui rever antigos amigos num sarau. Declamei poemas, ouvi histórias, bebi vinho, cantei...
Numa determinada hora, dei-me conta que há tempos não escrevo um poema novo. Os amigos saudosos perguntaram-me: "por quê?", "abandonastes a poesia?".
Não, não abandonei a poesia, não concebo a vida sem ela. Incapaz de dar uma resposta objetiva - porque a poesia dispensa tal objetivismo - cheguei à única conclusão plausível. Minha não produção poética deve-se a mim mesma, à minha maneira de processar a vida. E eu não ando para versos, para a concisão.
Já tive uma fase em que me dediquei arduamente aos haicais (prefiro chamá-los de poetrix). Fui econômica, enxuta, dizia muito em apenas três versos. Depois fiz contos tradicionais, prosa poética e por fim, apropriei-me dos mini-contos. Eu vivia numa verborragia urgente. Hoje trabalho as séries que espero venham a ganhar maior fôlego e transforme-se em algo mais consistente.
Então respondi que eu era tal qual um poema de Cecília Meireles:
Lua Adversa
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
P.S.: Acho que isso também explica minha entressafra no blog.
1 comentário:
como te percebo minha amiga!
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