III
tudo parece uma rota indefinida
não existem mapas
e as estrelas
não funcionam como dantes
um viajante
que vive a modos
do entardecer
na certeza de que o sol
morre todos os dias
quinta-feira, julho 31, 2008
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Séries: sonho
imagens que se colam ao peito (26)
últimos seis minutos 'Six Feet Under', 2005, Alan Ball
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Séries: imagens que se colam ao peito
II
não há fantasia
nas horas que separam
o vivo do morto
apenas gumes
facas e bifaces afiados
dentes de tubarão
e um abdómen rompido
onde nem a dor transborda
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Séries: sonho
terça-feira, julho 29, 2008
As matriarcas (10)
Somente as crianças – que não compreendiam bem o que de fato acontecia – romperam o silêncio daqueles rostos estáticos, quando resolveram se juntar ao bailado de tia Margarida. Aproveitaram seu desvario como desculpa para tomar banho de chuva, fazer algazarra e brincar de ciranda em torno de uma tia Margarida em êxtase.
Ninguém as impediu. Creio mesmo que nem notaram a presença delas, tamanha estupefação. Pareciam hipnotizados, em transe coletivo, num misto de horror e incredulidade diante da cena. Nenhum suspiro, nenhum “oh!” nem menear de cabeças. O único gesto (mecânico) que notei foi o de Pe. Miguel se benzendo com o sinal da cruz como se testemunhasse uma possessão, mas minha memória me dizia que a interpretação da criança que fui era outra. Naquele dia achei que Pe. Miguel abençoava tia Margarida, livrando-a de toda mácula, pecado ou doença, tal como Jesus fizera com Maria Madalena. Pensei que ali, naquele momento, ao ver tia Margarida rodopiar e sorrir, presenciara um milagre.
Eu mal sabia que era o começo do fim.
Tia Margarida deu um berro e desmaiou. Corri em sua direção ao mesmo tempo em que procurei mamãe com os olhos, mas ela amparava nos braços uma vovó Totonha desfalecida.
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Séries: As Matriarcas
segunda-feira, julho 28, 2008
Confessionário (52)
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
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Séries: confessionário
I
entra pela mesma porta
pousa a cabeça na soleira de granito
e espera que o sonho chegue
há um degrau sobre o corpo
e um farol no horizonte
nas mãos crescem-lhe estátuas
de homens que nunca viu
músculos assimétricos
cabelos violentos
há um anjo vermelho
que tece uma manta de celofane
e há um outro
que embrulha um coração
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Séries: sonho
terça-feira, julho 22, 2008
a estrada
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Séries: I-pod, le cume des jours