terça-feira, dezembro 19, 2006

Lista de bons desejos

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Luis Pinto

Desejo que:

A felicidade seja mais do que um conceito, uma abstração; que ela seja uma realidade para todos.
O respeito esteja na ordem do dia de todo Ser Humano.
O amor seja uma energia arrebatadora, transformadora e, em última instância, seja um aprendizado doce e sereno porque o amor sempre gera bons frutos, boas lembranças. Se o que restou tiver sabor desagradável, amor não era.
O Natal traga os reais valores aos corações, pois que Natal não é uma data somente, é um símbolo de confraternização. Independente da fé que se professe, ou da total ausência da mesma, existiu na História uma figura com uma proposta de vida absolutamente pacífica que mudou o rumo do mundo e por isso merece respeito.
O Ano Novo seja, simultaneamente, um momento de renovação e continuidade.
O Sincronicidade continue sendo uma casa hospitaleira onde as diversidades festejam.

Um beijo a todos e até o ano que vem.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Feliz Natal e até p'ró Ano!

Two Candles, 1982, Oil on canvas, Gerhard Richter

Este Natal vou para o lado de lá do blogue, vou fugir do frio… a Luciana espera-me no verão do Brasil. Vemo-nos em 2007!

feliz Natal para todos.

o meu presente:

Biglietto di Natale a M. L. S.

Maria Luísa quante volte
raccoglieremo questa nostra vita
nella pietà di un verso, come i Santi
nel loro palmo le città turrite?

La primavera quante volte
turbinerà i miei grani di tristezza
dentro le piogge, fino alle tue orme
sconsolate – a Saint Cloud, sulla Giudecca?

Non basterà tutto un Natale
a scambiarci le favole più miti:
le tuniche d’ortica, i sette mari,
la danza sulle spade.

“Miralbilmente il tempo si dispiega…”
ricondurrà nel tempo questo minimo
corso, una donna, un átomo di fuoco:
noi che viviamo senza fine.

Cristina Campo


Cartão de Natal a M.L.S.

Maria Luisa quantas vezes
recolheremos esta nossa vida
na piedade de um verso, como os Santos
na palma da sua mão as cidades muralhadas?

A primavera quantas vezes
voltará a moer os meus grãos de tristeza
dentro das chuvas, até teu rasto
inconsolável - em Saint Cloud, na Giudecca?

Não bastará um Natal inteiro
para trocarmos as fábulas mais suaves:
as túnicas de urtiga, os sete mares,
a dança sobre as espadas.

"Admiravelmente o tempo se desprega..."
reconduzirá no tempo este mínimo
escorrer, uma mulher, um átomo de fogo:
nós que vivemos sem fim.

Cristina Campo

O Passo do Adeus (Assírio & Alvim)
Trad. José Tolentino de Mendonça

Muito Obrigado

Fotografia de 'Borbotom', o livro de Alberto Augusto Miranda, Mónica Delicato
O Alberto Augusto Miranda teve a amabilidade de me enviar pelo correio um exemplar da sua última 'poça' de teatro, Borbotom. Recebido nesta quadra natalícia é algo que me enternece ainda mais, fico feliz por ser lembrado.
A Incomunidade é um projecto extremamente interessante, que vai acontecendo aqui e ali, sempre que um grupo de amigos se junta para dialogar sobre coisas que lhes dão prazer. Publicam livros e trocam-nos entre si, ou oferecem-nos a quem decide visitá-los de vez em quando nos filo-cafés que vão realizando por esse Portugal e pela Galiza. Conheço muito pouca gente que edita e oferece de forma tão generosa o objecto da sua edição. Num mundo onde ninguém dá nada a ninguém, esta atitude perante a publicação é digna do meu respeito e da minha admiração. Obrigado Alberto e Parabéns!
Um Feliz Natal para toda a Incomunidade.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

tercetos sobre a vida, a morte & coisas que tal (21)

sobre o amor III:

uma vez visitada a pérola que mora no peito de cada um
é como se os olhos ardessem ao descobrir um tesouro.
a memória persiste. uma vez amando, ama-se eternamente.
*

Na estante (6)

O Homem Público N. 1 (Antologia)

Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir. No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda.
Ana Cristina César

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Confessionário (38)



Black on Gray, 1969, Mark Rothko

Minha amiga, aqui estou como prometi, apesar dos dois dias de atraso. Antes de mais quero dizer-te que a nossa conversa sobre a espiral e o quadrado ainda não está encerrada. Tenho muita vontade de continuar o diálogo, de o aprofundar, de o relacionar com a arte e com a natureza. Kandinsky era uma pista, Rothko será outra... enfim, tempo haverá para dissertar sobre o poder da abstracção e as suas pontes com a vida.
Muito tem acontecido nestes últimos dias. Creio que coisas a mais! Boas e más. Certas e incertas. A vida por vezes obriga-nos a acelerar o passo; o meu receio é de não conseguir acompanhá-la ao mesmo ritmo. A seu tempo terei as respostas.
Há no meu afastamento recente do blogue um duplo porquê. Por um lado, a escassez de tempo inerente ao trabalho dos últimos dias, por outro, uma certa necessidade de me ausentar de um meio que sentia roubar-me muita energia. Esta distância permitiu-me perceber de forma muito clara a razão porque escrevo e quero continuar a escrever nesta casa. Percebi que estou preso ao Sincronicidade pela amizade que nos une e pelo diálogo fraterno que mantemos. Uma altura perguntei-me porque razão o blogue não era muito visitado. Na época ocorreram-me várias respostas: não é uma página interessante, é chato, é sério e lírico demais, não há sentido de humor, é enfadonho... uma série de quês que provavelmente constituirão no seu conjunto a grande resposta. A distância dos últimos dias fez-me perceber claramente porque é que somos pouco visitados e ainda menos lidos: nesta casa habitam realmente duas pessoas e parece não sobrar espaço para terceiros.
Somos nós próprios a causa da distância. As nossas confissões, talvez extremamente íntimas, assustam, criam receios, beliscam o pudor de quem nos visita. Percebi que continuo este espaço por mim e por ti exclusivamente. Percebi que é um acto egoísta, egocêntrico, que só a nós interessa, e que só desse modo deverá ser continuado. Sei que existem pessoas que se tornaram cúmplices desta partilha e que, porventura, encontraram nesta casa uma qualquer afinidade de sensibilidades. Não vale a pena nomearmos esses amigos. Os dois sabemos quem são. Eles também sabem. Tenho um respeito imenso por todos, pelo carinho e amizade que nos disponibilizam sem nada pedirmos, digo isto do fundo do coração.
Minha querida, este é o nosso médium, o nosso veículo. Não é nem deve ser mais do que isso. É assim que pretendo continuá-lo. Ainda mais íntimo, ainda mais intenso, ainda mais descarado e sem pudor, sem medo, amiga, sem medo. Já pensei sugerir-te em transformarmos o Sincronicidade num espaço completamente privado, sem esta exposição pública característica da blogosfera; um Sincronicidade feito de e-mails ou cartas à moda antiga, feito de cadernos de apontamentos, manuscritos, imagens gravadas em papel, mas temo pela nossa disciplina. Quer se queira ou não, este formato obriga-nos a uma actualização diária e continuada, caso contrário acaba por morrer. É essencial um exercício de escrita diário, sinto-o na evolução dos nossos textos. Teremos de futuro tempo para equacionar tudo isto com tranquilidade.
Está para breve o aniversário deste espaço e não sabes a alegria que vou ter de comemorá-lo contigo ao vivo e a cores em Brasília. Faltam poucos dias para ficarmos dia e noite a conversar sobre aquilo que não escrevemos ao longo deste ano. Mal posso esperar! Tenciono publicar apenas um poema da Cristina Campo antes de partir para o Brasil no próximo dia 21. Será o meu presente de Natal para todos aqueles que insistem em testemunhar esta amizade.
Um beijo.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Saudades de Clarice Lispector

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Em 1995, Caio Fernando Abreu, então colunista d’O Estado de São Paulo, publicou esse texto lindo, cuja autoria é atribuída à Clarice Lispector.
Para os que já me conhecem um pouco, fica claro que eu sou uma apaixonada por romances epistolares e que devoto imenso carinho às missivas. Sim, as cartas que costumávamos escrever antes da existência do papel virtual. Gosto de manuscritos porque não é só a escrita que fica retida, mas também a digital, o perfume, a pessoa.
Para relembrar os 29 anos de morte da inestimável Clarice Lispector, escolhi essa carta, então.

Berna, 2 de janeiro de 1947

Querida, Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. Depois que uma pessoa perde o respeito a si mesma e o respeito às suas próprias necessidades - depois disso fica-se um pouco um trapo.
Eu queria tanto, tanto estar junto de você e conversar e contar experiências minhas e dos outros. Você veria que há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Eu mesma não queria contar a você como estou agora, porque achei inútil. Pretendia apenas lhe contar o meu novo caráter, um mês antes de irmos para o Brasil, para você estar prevenida. Mas espero de tal forma que no navio ou avião que nos leva de volta eu me transforme instantaneamente na antiga que eu era, que talvez nem fosse necessário contar. Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim fiquei eu... em que pese a dura comparação... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. Espero que no navio que me leve de volta, só a idéia de ver você e de retomar um pouco minha vida - que não era maravilhosa mas era uma vida - eu me transforme inteiramente.
Uma amiga, um dia, encheu-se de coragem, como ela disse e me perguntou: "Você era muito diferente, não era?". Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou esta calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com lassidão de mulher de cinqüenta anos. Tudo isso você não vai ver nem sentir, queira Deus. Não haveria necessidade de lhe dizer, então. Mas não pude deixar de querer lhe mostrar o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você - pelo amor de Deus, não queira fazer de você mesma uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver.
Juro por Deus que se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia - será punida e irá para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não será punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo aquilo que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Espero em Deus que você acredite em mim. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Isso seria uma lição para mim. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade de alma. Tua Clarice

domingo, dezembro 10, 2006

Teorias amorosas (11)

- Volta pra mim!
- Não posso.
- Me perdoa!
- Você já está perdoado.
- Então volta pra mim!
- ...
- Você não me ama mais? É isso?
- Acho que ainda sobrou algum amor.
- Então por quê? Já sei, é vingança. Você quer me dar o troco, não é?
- Não, não é vingança.
- É o que, então?
- Paz, só paz.
- Eu não te entendo.
- Isso não me surpreende.
Encerra-se a série Teorias amorosas.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Teorias amorosas (10)

“Prometo te querer
até o amor cair
doente, doente”.

Depois de colocar-me definitivamente para fora de sua vida, disse, comovida como o diabo, as seguintes palavras:
“Apesar da separação (tão desejada por ti), continuo amando-te. Não te envaideças por isso. O mérito é todo meu. Independente de ser ou não correspondida, vou amar-te até o fim, até o fim do meu amor”.
Parti. Estava livre, mas sentia-me estranhamente vazio.