quinta-feira, fevereiro 05, 2009

'a eternidade e um dia' (2)



Stonehenge, Wiltshire, Inglaterra

Lewis Mumford, em ‘A Cidade na História’, aponta a resposta: ‘o respeito que o Homem cedo sentiu pelos mortos, expressão de fascinação por si mesmo, com as suas poderosas imagens de fantasia diurna e sonho nocturno, talvez tenha sido o que o levou a procurar, no princípio, um lugar de reunião fixo e, no futuro, um assentamento permanente’. A morte, diria antes, a consciência humana da morte, deu origem às primeiras obras arquitectónicas – a organização do espaço com uma intenção específica e premeditada para lá de uma resposta construtiva às necessidades biológicas. Mais do que abrigar-se e proteger-se, o Homem sente necessidade de prolongar a sua existência pela matéria, recusando a sua condição mortal e consequentemente a transitoriedade implícita ao funcionamento lógico do universo. Verificamos que desde Carnac e Stonehenge, até à sumptuosidade da arquitectura funerária egípcia, existe uma intenção forte de apropriação da forma ou da imagem como meio de atingir o belo e o imortal. A busca pela eternização da memória através da arte é muito mais do que a recriação ou o registo da beleza que observa, ela é a constatação da natureza narcísica da condição humana, o tal fascínio por si próprio de que falava Mumford. O homem resiste à fugacidade da vida e necessita intrinsecamente do perpétuo, marcando de forma mais ou menos subtil o rasto do seu percurso. É um fenómeno transversal a toda a humanidade, do ocidente ao oriente – uns fazem-no pela força da pedra, os outros pela força da forma.
Lavoisier viveu entre 1743 e 1794. Escreveu uma das frases mais sábias de que há memória, ‘Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma’. Dois séculos passaram e eu pergunto-me se o peso do tempo foi suficiente para que o homem contemporâneo entendesse e interiorizasse o seu real significado. Estaremos nós mais próximos do sentido da frase do químico francês ou daquilo que levou o homem do paleolítico a construir Stonehenge?

(continua)

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