Meu Vítor,
Trouxe um pouco de Lady Lazarus para dialogar com Woolf. Eram, certamente, almas afins.
Achava que não podia ser magoada
(Sylvia Plath)
Achava que não podia ser magoada;
achava que com certeza era
imune ao sofrimento —
imune às dores do espírito
ou à agonia.
Meu mundo tinha o calor do sol de abril
Meus pensamentos, salpicados de verde e ouro.
Minha alma em êxtase, ainda assim
conheceu a dor suave e aguda que só o prazer
pode conter.
Minha alma planava sobre as gaivotas
que, ofegantes, tão alto se lançando,
lá no topo pareciam roçar suas asas
farfalhantes no teto azul
do céu.
(Como é frágil o coração humano —
um latejar, um frêmito —
um frágil, luzente instrumento
de cristal que chora
ou canta.)
Então de súbito meu mundo escureceu
E as trevas encobriram minha alegria.
Restou uma ausência triste e doída
Onde mãos sem cuidado tocaram
e destruíram
minha teia prateada de felicidade.
As mãos estacaram, atônitas.
Mãos que me amavam, choraram ao ver
os destroços do meu firmamento.
(Como é frágil o coração humano —
espelhado poço de pensamentos.
Tão profundo e trêmulo instrumento
de vidro, que canta
ou chora.)
sexta-feira, junho 29, 2007
Na estante (10)
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Séries: Na estante
quarta-feira, junho 27, 2007
sublinhado (61)
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Séries: sublinhado
nota do dia (14)
porquê? ora... porque sim.
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Séries: nota do dia
domingo, junho 24, 2007
imagens que se colam ao peito (21)
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Séries: imagens que se colam ao peito
terça-feira, junho 19, 2007
que é o medo?
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Séries: Post-it
segunda-feira, junho 18, 2007
nota do dia (13)
há muitas coisas sobre as quais eu adoraria escrever. mas hoje não posso.
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Séries: nota do dia
domingo, junho 17, 2007
Onde falta memória, sobra imaginação.
O mamulengo ou teatro de bonecos nordestino também é uma fonte de inspiração para o Movimento, que procura além da dramaturgia, um modo brasileiro de encenação e representação.
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Séries: literatura
sábado, junho 16, 2007
Confessionário (46)
Minha amiga, desculpa-me a ausência mas tem-me faltado tempo e energia para a escrita ultimamente. Talvez estes últimos meses tenham sido agitados demais, talvez a velocidade dos acontecimentos me roube toda a atenção e concentração para que num futuro próximo possa ter a liberdade de emitir novamente.
Tenho reparado que há ciclos bem delineados na minha vida e muito semelhantes entre si. Há períodos em que me sinto todo emissor, a vontade de comunicar excede-me sem que possua algum controlo sobre ela. Outros há em que quase não consigo abrir a boca ou escrever uma palavra. São períodos esponja, em que absorvo tudo à minha volta, umas vezes de um modo suave e contemplativo, outras de forma violenta e inesperada. Nestas fases a vontade de comunicar reduz-se, quase que se anula; é como se a minha meteorologia interior anunciasse um longo período de chuvas e aguaceiros, obrigando-me a ficar em casa escutando as paredes e os mais insignificantes ruídos dos objectos. Toda a informação, mesmo a desnecessária, vai entrando e procurando o seu lugar na minha cabeça e enquanto a poeira não assenta não vale a pena comunicar porque na certa a mensagem passará um código viciado.
Os períodos esponja não me fazem mal, são-me até absolutamente necessários. Constituem uma espécie de ecoponto onde estabeleço uma primeira triagem antes de cada material seguir o seu caminho específico de reciclagem. Na adolescência detestava estes períodos. Normalmente surgiam acompanhados de uma melancolia e inércia que me matavam. Hoje em dia não me causam pânico algum, até me dão prazer. Devo ter perdido o medo da reflexão e com ele uma catrefada de angústias adjacentes. Tranquilo…
Tudo isto, minha amiga, para te dizer que o Lavoisier não era parvo de todo e que aquela história de que tudo se transforma não é nenhuma lenga-lenga sem sentido. Ao ler afirmações como esta “Perdi a capacidade de me espantar e por conseqüência não sinto mais as pernas bambas, o coração acelerado, a respiração ofegante... não acredito mais em borboletas batendo asas dentro da minha barriga.” sinto-me na obrigação de te dizer, como bom amigo que sabes que sou, que também tu me pareces estar a atravessar a mesma fase do ecoponto, ainda que a violência dos factos gere uma desilusão tal capaz de te fazer perder a fé por momentos. Há uma Luciana amplamente propulsora e sonhadora aí por Brasília… eu li-a em muitas cartas e vi-a nitidamente à minha frente nas longas conversas que tivemos. As borboletas vão bater asas dentro da barriga não tarda nada… e eu serei uma das primeiras pessoas a testemunhar esse grande acontecimento. (e não te peço desculpa pela minha presunção, porque a nossa amizade dá-me esse direito)
Como a nossa Lia diria, um beijo na alma cheio de saudades.
O teu Vítor.
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Séries: confessionário
sexta-feira, junho 15, 2007
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Séries: cinema
sábado, junho 09, 2007
Garrafas ao mar (3)
Publicada por Luciana Melo 7 comentários
Séries: Garrafas ao mar
As matriarcas (9)
A fé se evidencia, as pessoas tornam-se mais solidárias, a cidade ferve. Todos colaboram de alguma forma.
As crianças enfeitam as ruas com bandeirolas coloridas. Ficamos dias recortando papéis e enfileirando-os em barbantes muito compridos, depois cruzamos as ruas desenhando os caminhos da procissão do Senhor Morto.
Antes da grande festa, acontecem novenas e via-sacra. As pessoas reúnem-se nas casas com muita reza e cantoria. As salas ficam lotadas, com gente sentada até no chão. No começo, a concentração é grande, mas passada a primeira meia hora, as crianças tornam-se inquietas como se estivessem sentadas sobre formigueiros, os mais velhos adormecem e a cada instante são acordados aos cutucões.
Lá em casa é sempre uma comédia. Vovó Totonha puxa a reza. Vovô, nas poucas ocasiões em que me recordo de sua presença, dorme e quando começa a roncar, vovó belisca seu braço, o que faz com que desperte assustado. Tia Margarida, mamãe e eu não agüentamos a cena e damos muita risada. Os olhos de vovó e da bisa faíscam e rapidamente fazemos cara de sérias.
O que compensa os mais de sessenta minutos de castigo é certamente o lanche. Sempre tem comidas deliciosas ao término das novenas. Que Deus me perdoe, mas acho – com raras exceções – que aquele povaréu só aparece para comer.
Estava tudo pronto para a procissão da quarta-feira de cinzas. Eu jamais me esquecerei desse dia enquanto eu viver.
Tia Margarida caiu doente com uma gripe forte e por isso não poderia participar. Ela estava visivelmente chateada porque não poderia fazer o papel de Verônica. Foi preciso que vovó lhe desse um calmante. Somente depois que ela adormeceu é que saímos para a rua.
Tudo ia bem, mas de repente o céu ficou fechado, muito cinza e uma chuva torrencial começou a cair. Foi bem na hora em que Verônica enxugaria a face de Jesus.
Lá no fim da rua, um vulto todo vestido de branco vinha gritando: era Tia Margarida. Ela vestia sua camisola de linho e trazia um lençol nas mãos. Aproximou-se de “Jesus” e começou a enxugar-lhe rosto.
Vovó Totonha ficou paralisada.
A chuva molhou a camisola de tia Margarida e todos podiam ver seus seios.
Do mesmo jeito que chegou, ela foi embora: correndo e gritando.
Saímos atrás dela e quando chegamos à casa, ela estava no quintal, dançando e cantando em êxtase, num transe total.
Olhei para vovó Totonha e foi a primeira vez que a vi chorar. Suas lágrimas confundiam-se com as gotas da chuva.
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Séries: As Matriarcas
sexta-feira, junho 08, 2007
quarta-feira, junho 06, 2007
nota do dia (11)
Publicada por Vítor Leal Barros 4 comentários
Séries: nota do dia
sexta-feira, junho 01, 2007
nota do dia (10)
hoje nem as nuvens conseguem apagar a força da lua.
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Séries: nota do dia