terça-feira, abril 10, 2007

como um...

Embrulho

A pele tornou-se-me exigente, dir-se-ia que me passa através das frestas que os pensamentos deixam abertas entre si, ou entre os pensamentos e a memória, e que por vezes os envolve como se eles fizessem parte do meu corpo. Eu mais não sou então do que um embrulho de memória, atado pelas veias e lacrado pelo espírito.
Entre cada um dos meus poros e o que deles diviso no meu espírito há uma corda, uma espécie de cabo onde circula a realidade ou onde, de quando em quando, ela aparece pendurada. Há quem nessas alturas a confunda com a pele, mas é só porque a roupa então se cola aos sentimentos que podemos vislumbrar o firmamento através deles.
Poesia Completa (Dom Quixote), Luís Miguel Nava

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