sábado, junho 16, 2007

Confessionário (46)

Minha amiga, desculpa-me a ausência mas tem-me faltado tempo e energia para a escrita ultimamente. Talvez estes últimos meses tenham sido agitados demais, talvez a velocidade dos acontecimentos me roube toda a atenção e concentração para que num futuro próximo possa ter a liberdade de emitir novamente.
Tenho reparado que há ciclos bem delineados na minha vida e muito semelhantes entre si. Há períodos em que me sinto todo emissor, a vontade de comunicar excede-me sem que possua algum controlo sobre ela. Outros há em que quase não consigo abrir a boca ou escrever uma palavra. São períodos esponja, em que absorvo tudo à minha volta, umas vezes de um modo suave e contemplativo, outras de forma violenta e inesperada. Nestas fases a vontade de comunicar reduz-se, quase que se anula; é como se a minha meteorologia interior anunciasse um longo período de chuvas e aguaceiros, obrigando-me a ficar em casa escutando as paredes e os mais insignificantes ruídos dos objectos. Toda a informação, mesmo a desnecessária, vai entrando e procurando o seu lugar na minha cabeça e enquanto a poeira não assenta não vale a pena comunicar porque na certa a mensagem passará um código viciado.
Os períodos esponja não me fazem mal, são-me até absolutamente necessários. Constituem uma espécie de ecoponto onde estabeleço uma primeira triagem antes de cada material seguir o seu caminho específico de reciclagem. Na adolescência detestava estes períodos. Normalmente surgiam acompanhados de uma melancolia e inércia que me matavam. Hoje em dia não me causam pânico algum, até me dão prazer. Devo ter perdido o medo da reflexão e com ele uma catrefada de angústias adjacentes. Tranquilo…
Tudo isto, minha amiga, para te dizer que o Lavoisier não era parvo de todo e que aquela história de que tudo se transforma não é nenhuma lenga-lenga sem sentido. Ao ler afirmações como esta “Perdi a capacidade de me espantar e por conseqüência não sinto mais as pernas bambas, o coração acelerado, a respiração ofegante... não acredito mais em borboletas batendo asas dentro da minha barriga.” sinto-me na obrigação de te dizer, como bom amigo que sabes que sou, que também tu me pareces estar a atravessar a mesma fase do ecoponto, ainda que a violência dos factos gere uma desilusão tal capaz de te fazer perder a fé por momentos. Há uma Luciana amplamente propulsora e sonhadora aí por Brasília… eu li-a em muitas cartas e vi-a nitidamente à minha frente nas longas conversas que tivemos. As borboletas vão bater asas dentro da barriga não tarda nada… e eu serei uma das primeiras pessoas a testemunhar esse grande acontecimento. (e não te peço desculpa pela minha presunção, porque a nossa amizade dá-me esse direito)
Como a nossa Lia diria, um beijo na alma cheio de saudades.
O teu Vítor.

1 comentário:

Luciana Melo disse...

Saudade de te ler, meu Vítor... e devo confessar, ela é um pouco egoísta, porque sentia saudades de ter grafias destinadas a mim.
Ai que amiga carente! hahaha