domingo, julho 30, 2006
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Eu, Tu e Todos os que Conhecemos
É uma história simples, centrada nas vidas de pessoas comuns dum subúrbio americano, aparentemente sem nada de extraordinário para contar e que no entanto nos fazem reflectir tanto sobre o modo como comunicamos e nos relacionamos uns com os outros. Se tivesse que escolher um tema como chave do argumento, eu escolheria ‘comunicação’ (ou a falta dela). Ao longo do filme senti que todas aquelas pessoas se esforçavam por chegar ao outro, contar-lhe a sua história, mostrar-lhe o seu pequeno mundo; um pequeno mundo com a dimensão do universo inteiro. Apercebi-me que todos nós somos assim. O nosso universo é a nossa realidade. E o que diariamente tentamos fazer, não é mais do que partilhar o nosso universo com os outros como se fosse a coisa mais sagrada e importante do mundo. Os blogues são um bom exemplo disso. Se imaginarmos o drama de cada um, o que se vive, o que se sente, os raciocínios que se fazem, as emoções que se experimentam e potenciarmos isso ao número de pessoas que habitam este planeta, apercebemo-nos da riqueza e diversidade da Vida, da sua magnificência e complexidade. Cada um encerra em si um universo. Cada vida é, por si só, uma história de interesse universal, por mais corriqueira e banal que possa parecer. Penso que é esta a grande mensagem do filme. Gostei do tom meigo e subtil como Miranda July vai contando tudo isto, gostei do seu tipo de sensibilidade. Acho que é daquelas histórias impossíveis de serem escritas e contadas por um homem… pelo menos desta forma. Vale a pena ver.
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Séries: cinema
quinta-feira, julho 27, 2006
por dentro do monte Gellért
Quem levará o Amor?
Quando meu ser pra sempre se fundir,
quem adorará violino do grilo?
Chama quem soprará no ramo frio?
Quem se deitará sobre o arco-íris?
Chorando, quem abraçará rochosas
ancas ora campos de leves ondas?
Quem acariciará duros cabelos
de raízes nas paredes, artérias?
E à fé devastadora erigirá
quem uma de injúrias catedral?
Quando meu ser pra sempre se fundir,
quem os abutres amedrontará?
E quem levará para a outra margem
o Amor em seus dentes apertado?
Nagy László (poeta húngaro)
trad. Ernesto Rodrigues
Rosa do Mundo, Assírio & Alvim
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terça-feira, julho 25, 2006
Confessionário (26)
Não, ele não pediu e nem precisava. Continuaria a fazer tudo da mesma forma se sentisse que valeria a pena. Não vale.
Não me arrependo. Não sou miserável. Dar não gasta, não me descaracteriza. A propósito, o amor vai pro sumidouro do mundo, um lugar enorme, um depósito de energia que se re-alimenta.
Não foi em vão. Apesar do saldo negativo, não foi em vão.
Há pessoas que sempre encontrarão motivos para não dar certo, para justificarem sua infelicidade... mas eu, eu não sinto culpa.
Uma outra amiga abraçou-me forte e disse-me: você é boa demais. Sei o que quis dizer, mas eu tenho esse escape, sabe? Quando atravesso desertos, invariavelmente, me transformo na minha melhor piada.
Disparei: toda pessoa boa possui uma falha de caráter imperdoável – não tem instinto de autopreservação.
Rimos juntas e entre uma lágrima e um sorriso, lembrei-me de ti.
Há quanto tempo nos conhecemos, Vítor?
Eu não sei... eu só sei que você sempre esteve presente. Soube quando o cheiro de cappuccino invadiu minha vida, do vento levando-o embora e trazendo o aroma de flores velhas.
É bom ter alguém por perto que segure nossa mão, em silêncio, enquanto esperamos uma nova estação.
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Séries: confessionário
Confessionário (25)
No meu pulsar quase obsessivo de inventariar e compilar as coisas, fui arquivando os nossos textos, as cartas que enviamos um ao outro e que só nós conhecemos, todos aqueles textos que só tu e eu tivemos oportunidade de saborear e partilhar, todas as frases em que choramos ou rimos em conjunto, todos os apelos de força e incentivo, todas as palavras de compreensão e carinho que não mostramos nestas confissões que decidimos tornar públicas. Minha amiga, são mais de duzentas páginas de letra miúda entre as tuas e as minhas cartas… mais de duzentas! Já questionaste algum dia a dimensão do nosso diálogo, o tamanho da nossa conversa? Impressionante, não achas? Mas isso nem é o mais importante. Não é a quantidade de palavras que nos dedicamos que quero celebrar hoje. É a amizade que quero ver celebrada, é a vontade de não deixar o outro sem resposta que quero festejar, é o fazer tudo isso sem receber nada em troca que quero partilhar com quem, neste preciso momento, lê o que escrevemos. E dizer-lhe que o fazemos sem obrigação, e dizer-lhe que o fazemos simplesmente porque confiamos um no outro, e dizer-lhe que nunca me viste a cara nem eu a tua, que nunca nos tocamos, nunca nos beijamos na pele… mas que no espírito e no coração transportamos a fidelidade não imposta dos amigos. Era tudo isto o que te queria dizer, era tudo isto que queria que soubesses nesta fase em que a vida tem sido tão implacável contigo.
Deixo-te de presente uma das imagens que mais me marcaram na vida… das que ‘se colam ao peito’ e não o deixam nunca mais. Uma daquelas peças de arte que nos proporcionam uma comoção tão forte ao olhá-las pela primeira vez, que, já não sei que filósofo francês, penso que Camus, dizia ser a mais nobre e intensa elevação do espírito humano… a comoção, o orgasmo pela arte. Muitos poderão dizer que é uma imagem banal, outros que ela nada tem de belo ou especial… eu só sei que quando a vi pela primeira vez as lágrimas caíram-me pelo rosto sem que tivesse tempo de detê-las…
Hoje tenho vontade de poder partilhá-la contigo… um abraço, este abraço… Vítor.
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Séries: confessionário
segunda-feira, julho 24, 2006
sublinhado (33)
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Séries: sublinhado
sábado, julho 22, 2006
por dois soldados...
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sexta-feira, julho 21, 2006
imagens que se colam ao peito (6)
Pormenor de "A Escola de Atenas" (Michelangelo retratado como Heráclito). 1509-10. Fresco. Stanza della Segnatura, Musei Vaticani, Vaticano, Rafaello Sanzio
à esquerda, pormenor de Hipatia; à direita, pormenor de Rafael
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Séries: imagens que se colam ao peito
caderno de Roma e Budapeste (4)
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quarta-feira, julho 19, 2006
caderno de Roma e Budapeste (3)
um silêncio absurdo
inspirações arfadas
ao ritmo veloz do sangue
nenhum segredo por contar
nenhuma história por dizer
e esquecer por minutos
os músculos, a pele, o cabelo
esquecermo-nos como se
pudessemos morrer já
e olharmo-nos por dentro
do quadro negro postrados contra
as paredes da masmorra
perceber que o suor se
espalha sobre elas
e desenha o vazio nas
gotas de desejo
que caem no chão
roubar o calor do outro
pulsação por pulsação
até que seja só medo
que o último fio de luz
unindo o cérebro ao corpo
se quebre
porque a pele não mata
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terça-feira, julho 18, 2006
caderno de Roma e Budapeste (2)
É como se esta música que agora ouço, no caminho de retorno a Roma, me anunciasse os segredos de uma Budapeste por chegar. E me dissesse que os olhos que agora descansam tranquilos sobre o meu ombro serão os mesmos a mostrar-me como se deita o sol sobre o Danúbio.
Concerto para Piano nº1, Quasi Adagio, Ferenc Liszt
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Um dia eu vou aprender que...
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segunda-feira, julho 17, 2006
sexta-feira, julho 14, 2006
caderno de Roma e Budapeste (1)
Quem me conhece sabe o pavor que tenho de multidões, mas imaginar a Piazza di Trevi vazia parece-me um cenário absolutamente desolador. Esta fonte só faz sentido se houver um emaranhado de corpos que lhe prolonguem a vida e a espalhem através de olhares fascinados pelas ruas avermelhadas de Roma.
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quinta-feira, julho 13, 2006
Minha querida Lia, fiquei devendo ao Vítor a explicação desse nosso eterno “beijo na alma” e mais do que isso, acho que o meu atual momento clama por esta (re)visita.
Há lama na minh'alma
Ou é a minha alma que esconde a lama?
Essa poeira calcificada
Dói nos meus ossos
E gruda nas minhas entranhas.
Seria pedir muito
Que não latejasse?
Seria querer demais
Que se dissolvesse?
Alma e lama, lama e alma
Água e barro
Sopro e chama.
(29/06/01)
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segunda-feira, julho 10, 2006
...ainda por aqui...
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sexta-feira, julho 07, 2006
Camões em quadrinhos
Editora Ibep-Nacional lança íntegra d'Os Lusíadas com ilustrações de Lailson, adaptando o épico português para o século 26.
Leia mais aqui.
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quarta-feira, julho 05, 2006
Até breve meus amigos...
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terça-feira, julho 04, 2006
Confessionário (24)
Eu entendo de não ter vontade de escrever... até isso eu também entendo, então não te culpes, a culpa é prima-irmã do medo e este só traz pesar.
Sim, seria maravilhoso poder ter-te pela vizinhança, dar uma caminhada, ouvir sua opinião sobre tudo o que se passa, ter teus olhos ao alcance dos meus e se a palavra não resolvesse minhas angústias, certamente um abraço o faria.
As alfinetadas não cessam, o movimento é exatamente o que descreves – cíclico e interminável. Respirar requer um esforço tamanho, mas eu respiro porque a despeito de tudo, eu quero viver.
Sim, Vítor, não há sensação pior do que a da impotência. Ver quem amamos ir sumindo lentamente, até a vista não mais poder alcançá-los é desumano, é rechaçar toda a divindade que carregamos no peito. E nesses dias tenho me sentido extremamente mortal...
“Sabe lá, o que é morrer de sede em frente ao mar, sabe lá?”
Sim, é cruel não ter a exata medida do que fazer, meu amigo.
Quando eu poderia imaginar que dizer ‘eu te amo’, ao invés de trazer a pessoa para o nosso aconchego faria com que ela se esquivasse e partisse? Aí, insanamente, eu esbravejo, eu esmurro que é pra ver se existe resposta e a resposta é a mesma – a distância.
Já não faz diferença se amo ou odeio, todo o movimento afasta tudo de mim, então resolvi ficar quieta, fingir-me de morta. Quem sabe o inverno me esquece até que chegue o dia da sua partida?
Amar implica, sim, em tudo o que dissestes, meu amigo: teimosia, inconformismo, permanência. Apesar do cansaço...
Eu sou filha dos resistentes da ditadura, Vítor. E carrego no próprio nome a maldição de resistir: sou LuZ e minha sina é iluminar caminhos.
Outro beijo.
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Séries: confessionário
Obrigada, Camila!
ela diz: eu deveria saber que o amor é um campo minado.
ele indaga: como assim?
ela sentencia: veja eu, fui dizer que te amo e fiquei mutilada.
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