quinta-feira, junho 22, 2006

Confessionário (23)

Quero pedir-te desculpa pelo atraso na resposta. Ando muito ocupado com o trabalho e no pouco tempo que sobra tenho vontade de tudo menos de escrever. Às vezes imagino como seria bom ter-te mais perto. Em vez de me sentar e respirar fundo antes de escrever, convidava-te para tomar um café à beira-mar, onde uma hora de conversa seria um limite menos constrangedor para te dizer tudo o que te quero dizer.
Tenho lido e relido os teus últimos textos. Sempre que com eles me encontro, cresce-me a sensação de uma agulha a picar o peito, uma picada constante num movimento cíclico e interminável. Parece que esse Inverno chegou rigoroso… e que nem o Verão de cá, com a luz transparente dos últimos dias, consegue ter força suficiente para atravessar o oceano e levar até aí alguma tranquilidade.
Lu, não há sensação mais horrível do que sentirmo-nos impotentes perante as adversidades das vidas dos nossos amigos. Ficamos sem saber o que dizer, o que fazer, como fazer… a ansiedade cresce-nos sempre que pensamos na palavra certa para dizer, ou na intensidade que devemos colocar em cada abraço. Assistir ao desenvolvimento dos acontecimentos dizendo apenas ‘eu estou aqui’ é demasiado frustrante, é quase cruel… porque a nossa vontade cresce no sentido de provocar uma revolução que vos liberte e o tempo obriga-nos à sensatez de saber ouvir e esperar…
…mas é dessa forma sensata que devemos saber esperar, é dessa forma paciente que devemos amplificar a nossa capacidade de ouvir… porque ser amigo implica um não sei quê de permanência, de inconformismo, de teimosia… ser amigo significa vestir o papel dos Resistentes em tempos de ditadura… a sua função é tão e somente não deixar morrer a esperança de que dias de paz chegarão. Um beijo.

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