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[...] Por outro lado, existem vozes poéticas que, na sua serena gravidade, irradiam em todas as direcções. É o caso da obra poética de Fiama Hasse Pais Brandão. Sem nunca abdicar da vocação textual do que, no poema, é diálogo com outros (con)textos e, por isso mesmo, com uma língua – a portuguesa -, com modos de ver que nesta encontram o seu horizonte de possibilidade, Fiama Hasse Pais Brandão construiu, ao longo da segunda metade do século XX, uma obra sem a qual não seria possível compreender o que de mais significativo aconteceu na poesia portuguesa dos últimos 50 anos. Poeta da «harmonia do mundo», na escrita de Fiama condensa-se a contemplação reflexiva do mundo, das suas coisas mínimas, ou de acontecimentos que, na sua aparente banalidade, encerram virtualidades significativas, que a visão poética sabe descortinar. Não se trata de, à maneira dos místicos, negar o mundo para o salvar. Nem, muito menos, de dissolver a subjectividade numa vastidão cósmica em que a palavra soçobra, calando-se. Nem discursividade, nem silêncio. Antes o verso, que tem a arte de se suster, produzindo descontinuidades e intermitências, que é o modo próprio de tornar real a realidade. Ou ainda a palavra que se quebra, de maneira a expor a evidência da sua materialidade. [...]
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