- Bom dia.
- Bom dia.
- A senhora gostou do quarto?
- Sim, está confortável. Obrigada.
- Se precisar de alguma coisa...
- Na verdade, preciso, sim. Quero dar uma volta pela cidade, mas primeiro preciso encontrar o Tiziu. Ele disse-me que seu pai conseguiria uma boa bicicleta para mim.
- Ah, sim! Neste horário, o moleque Tiziu deve estar no Grupo Escolar, mas a loja do Geraldo fica bem perto daqui. Venha, eu mostro pra senhora.
De fato, a loja era bem perto. Do outro lado da praça, para ser mais precisa. Parece que tudo de relevante para a cidade ficava na praça da Matriz. Igreja, coreto, hotel, uma sorveteria e a loja do Sr. Geraldo.
Lembro-me perfeitamente das missas de domingo na Matriz. Eram longas, demoradas demais mesmo. Causavam sonolência nos fiéis. No entanto, era o dia mais movimentado e esperado da semana. Mamãe punha-me laços no cabelo. Vovó Totonha usava seu colar de pérolas – presente de casamento – e vestido de linho branco muito bem engomado. A bisa, como era muito gorda, estava sempre de chambre de algodão e um coque trançado. Tia Margarida, muito alta, pernas longilíneas, gostava de saias plissadas e de perfume. Ela passava tanto que eu ficava enjoada, mal conseguia tomar café da manhã, mas nunca a repreendi, nunca pedi que abandonasse tal prazer, afinal eles eram tão poucos.
Depois da missa começava o melhor: pipoca, algodão doce, bandinha tocando, as crianças correndo livres pela praça. Na época de quermesse, tia Margarida vendia seu famoso licor de jenipapo e vovó Totonha levava seus deliciosos beijus. Eu voltava para casa com dor de barriga.
Tia margarida, antes de ficar doente, dava aulas no Grupo. As crianças adoravam-na. Faziam fila na barraca para provar do seu licor, que era muito doce e tinha quase nada de álcool. Eu sei porque experimentava em casa. Ela dizia “a prova final é a Olívia quem dá”.
- D. Olívia. D. Olívia.
- Tiziu! Eu procurava mesmo por você.
- É?
- É. Estava indo à loja do seu pai alugar uma bicicleta, mas me diga, você não deveria estar na aula, mocinho?
- Eu tava, mas é que... é que...
- Mas é que você está cabulando aula.
- Não conta nada para o meu pai, por favor.
- Não conto se você der meia volta.
O bico habitual surgiu em seu rosto.
- Esse bico de novo, não! Volte para a aula e mais tarde convido você para um passeio de bicicleta e ainda contrato seus serviços de guia. O que acha? Vai querer?
O olhinho dele brilhou. O bico sumiu.
- E a dona paga? Quanto?
- Pago, claro que pago. Combinamos isso depois. Agora volte já para a escola.
- Bom dia.
- A senhora gostou do quarto?
- Sim, está confortável. Obrigada.
- Se precisar de alguma coisa...
- Na verdade, preciso, sim. Quero dar uma volta pela cidade, mas primeiro preciso encontrar o Tiziu. Ele disse-me que seu pai conseguiria uma boa bicicleta para mim.
- Ah, sim! Neste horário, o moleque Tiziu deve estar no Grupo Escolar, mas a loja do Geraldo fica bem perto daqui. Venha, eu mostro pra senhora.
De fato, a loja era bem perto. Do outro lado da praça, para ser mais precisa. Parece que tudo de relevante para a cidade ficava na praça da Matriz. Igreja, coreto, hotel, uma sorveteria e a loja do Sr. Geraldo.
Lembro-me perfeitamente das missas de domingo na Matriz. Eram longas, demoradas demais mesmo. Causavam sonolência nos fiéis. No entanto, era o dia mais movimentado e esperado da semana. Mamãe punha-me laços no cabelo. Vovó Totonha usava seu colar de pérolas – presente de casamento – e vestido de linho branco muito bem engomado. A bisa, como era muito gorda, estava sempre de chambre de algodão e um coque trançado. Tia Margarida, muito alta, pernas longilíneas, gostava de saias plissadas e de perfume. Ela passava tanto que eu ficava enjoada, mal conseguia tomar café da manhã, mas nunca a repreendi, nunca pedi que abandonasse tal prazer, afinal eles eram tão poucos.
Depois da missa começava o melhor: pipoca, algodão doce, bandinha tocando, as crianças correndo livres pela praça. Na época de quermesse, tia Margarida vendia seu famoso licor de jenipapo e vovó Totonha levava seus deliciosos beijus. Eu voltava para casa com dor de barriga.
Tia margarida, antes de ficar doente, dava aulas no Grupo. As crianças adoravam-na. Faziam fila na barraca para provar do seu licor, que era muito doce e tinha quase nada de álcool. Eu sei porque experimentava em casa. Ela dizia “a prova final é a Olívia quem dá”.
- D. Olívia. D. Olívia.
- Tiziu! Eu procurava mesmo por você.
- É?
- É. Estava indo à loja do seu pai alugar uma bicicleta, mas me diga, você não deveria estar na aula, mocinho?
- Eu tava, mas é que... é que...
- Mas é que você está cabulando aula.
- Não conta nada para o meu pai, por favor.
- Não conto se você der meia volta.
O bico habitual surgiu em seu rosto.
- Esse bico de novo, não! Volte para a aula e mais tarde convido você para um passeio de bicicleta e ainda contrato seus serviços de guia. O que acha? Vai querer?
O olhinho dele brilhou. O bico sumiu.
- E a dona paga? Quanto?
- Pago, claro que pago. Combinamos isso depois. Agora volte já para a escola.
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