quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Confessionário (41)

Meu amigo,

Li tua última confissão atentamente e repetida vezes. Refleti sobre as questões que levantastes e conferindo a mim total liberdade de pensamento e análise crítica, respeitando meus pré-conceitos e limites, meus princípios e valores, de tal forma que o que escrevo agora é a expressão fidedigna dos meus sentimentos e avaliações. Com isso não almejo “a verdade” nem ser a voz que a proclama. É um ponto de vista tão somente a partir dos meus julgamentos. E como já disse no comentário, julgar, avaliar, especular, inferir é diferente de condenar. É um direito que tenho de fazê-lo quando me vejo direta ou indiretamente envolvida no problema.
Vítor, darei nome aos bois. Isentei-me até agora de comentar o ocorrido porque não conhecia a pessoa envolvida, mas isso não combina comigo. Costumo pronunciar-me diante do que me causa incômodo. Sou de dar a cara a tapa. Não sou das hipocrisias e das covardias. Os fatos geram críticas que geram posicionamentos. Eis o meu. Depois disso não falo mais. Não quero adicionar capítulos a esse episódio lamentável sobre todos os aspectos.
Quero, contudo, não perder o norte desse confessionário: a questão da confiança e do respeito, em primeiro lugar. Depois vem a questão maior: o Homem. Mas sobre isso não tenho a intenção ou pretensão de dissertar. Há milênios as mais diversas áreas do conhecimento têm tentado compreender sem chegar a nenhuma conclusão.

O caso M.E.G

Não a conhecia. Nunca trocamos e-mails. Não freqüentava seu blogue. Soube dela pelo link que colocastes na brasosfera e depois lendo amigos em comum. Num primeiro momento não entendi absolutamente nada. Imaginei que estava se despedindo da vida de blogueira. Foste tu quem chamou minha atenção para o fato de sua morte. Apesar de ter contato zero com ela, fiquei bastante consternada, afinal é uma vida e nesse universo virtual esse conceito ganha outras proporções. Estranho sentir pesar pelo desaparecimento de uma pessoa que nunca vimos e que de certa forma se torna tão presente. Senti pesar pela família dela – a sangüínea – e também pela família virtual que conseguiu formar através de seu blogue. Pensei em duas pessoas em particular: no Henrique e no Carlinhos – que eu não conheço e quero tanto bem. Freqüento com alguma assiduidade o blogue de ambos.
Mais tarde pensei em nós, meu Vítor. Se algo nos acontecesse (e um dia irremediavelmente acontecerá a todos nós). Fiquei silenciosa em sinal de respeito.
Poucos dias depois, vejo a rede em polvorosa: M.E.G não morreu! Como assim? Pensei comigo: que bom. Alguém deve ter feito confusão. Depois vi que não era confusão. Passei a ler atentamente os fatos apresentados – alguns mais imparciais; outros mais apaixonados – e entendi que não era engano, mas um blefe, uma história montada. Tive asco, horror e depois uma grande desesperança.
E aí nos vemos enredados pela máxima “Don’t trust nobody!”
O caso da M.E.G infelizmente é mais um para as estatísticas, meu Vítor. O mundo está recheado de infelicidade e solidão. Não é privilégio da internet. Somos quem somos, apesar das máscaras que usamos. E um dia elas caem, mesmo que acreditemos estarem tão entranhadas que jamais desgrudarão de nossas faces. Desgrudam! São pessoas que fazem a net, muito embora ela seja uma máscara poderosa, talvez a mais porque tem o anonimato como cúmplice. Mas o desejo prometeico do Homem é infinito e quando encontramos possibilidades materiais, damos um jeito de desbaratar o anonimato. Nós que o digamos!
Você melhor do que ninguém sabe que, no ano passado, saí de três experiências traumáticas que quase destruíram minha alma (ainda bem que existe um quase nesta frase!). Duas delas tiveram maior peso: descobrir um estranho na pessoa que convivia comigo e quase perder a minha vida e a de minha mãe num seqüestro.
Passei 2006 ruminando a frase “don’t truste nobody”. Jurei a mim mesma que me tornaria um bloco de gelo. Esqueci do detalhe que o gelo derrete e graças a Deus ele derrete! Não vou transformar-me em algo que não sou.
Como te disse no comentário, as doenças são passíveis de compreensão, mas não as atitudes doentias.
Hoje, com algum distanciamento, eu consigo discernir tanta violência e egoísmo. Isso é bom porque posso perdoar e seguir adiante sem avinagrar meu espírito, mas não significa em hipótese alguma que eu aceite tais comportamentos e seja conivente com eles. Não sou tão cínica, penso eu. Aceitar e ser conivente é tornar-me um igual.
Há gente de todos os tipos e não é exatamente isto que enriquece a experiência humana? Sim, eu abriria mão de viver coisas desagradáveis, mas tais coisas tornam-se indispensáveis para sermos quem somos.
Há muita merda no mundo. Mas há também tanta beleza e doçura! Prendo-me a isso para fazer a vida valer a pena. Senão seria como diz o Carlinhos: “bum-bum”.
Vou continuar acreditando porque acreditando é que você tornou-se realidade na minha vida a despeito da descrença de muitos.
E como diz o ditado por aqui:
Quem gosta gosta. Quem não gosta que coma bosta.

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