e no corpo deus viveu dois dias alheio ao destino irrevogável do sangue. nas mãos fechadas segurava o pó com que ia lavando a face e curando a cegueira cada vez mais intensa e escura. por entre o brilho intermitente dos cabelos dourados a vida existia-lhe apenas no ventre, rubra, embalada pela melodia do duplo sexo e a carne entoava labaredas num fogo cada vez mais ardente e visceral. e nesses dias deus existia somente na doce promiscuidade do corpo e não chorava a alma porque o lume era alimento bastante. no canto do universo a alma permanecia quieta e atenta. assistia ao espectáculo orgíaco do deus-corpo em consumo e a cada rasgo de sangue, a cada lago de saliva criado nas membranas do vazio, a alma chorava-lhe a volúpia e a rendição. e eis que ao vigésimo segundo dia o deus-corpo se abafava de prazer e a pele já não respirava e o lume não regenerava e o pó já não curava e a atmosfera existia apenas sob a forma de um manto sujo que tingia de negro os cabelos de deus. deus lutava para manter o corpo vivo. gritava pelo pó e ordenava que o pó o curasse e o pó não obedecia. e foi que deus percebeu que o pó era impuro e inerte e se arrependeu e o amaldiçoou para sempre.
terça-feira, julho 10, 2007
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1 comentário:
Vitor, ainda bem que deste sinal de vida. Um dia destes escrevo-te um e-mail grande. Afinal, já há muito tempo que não falamos. um beijo grande.
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