Hoje a nenhum leitor é permitido ler alguma coisa sem se justificar. Mas convém-lhe, tal como àquele [o chinês da revolta dos Boxers que lia um livro enquanto esperava a guilhotina], ficar calado. Se proferisse uma só palavra sobre as razões da sua leitura, acabaria por ser, para usar um eufemismo, impedido de continuá-la. Porquê? Em primeiro lugar é um puro milagre que lhe tenha chegado às mãos aquele livro. Como diz Marianne Moore de um eminente poeta de hoje: «Ele é repreendido pela sua arte perfeita; o escritor já não pode ser excelente na sua obra sem ser como o cão de Coriolano, a quem se bate tanto por ladrar como para que o faça». (pág. 79)
Os Imperdoáveis (Assírio & Alvim), Cristina Campo
Sem comentários:
Enviar um comentário