sábado, fevereiro 11, 2006

O Amor é olfactivo

Durante anos perguntei-me como guardava o amor, perguntei-me de que forma edificava a memória, de que modo permitia ao corpo libertar o desejo… é nestas horas de silêncio, entre o sono da cidade e o sono dos anjos, que me chegam todas as respostas. Enrosco-me sobre o seu corpo e inalo uma e outra vez o perfume do seu pescoço. São inspirações profundas, deliberadamente lentas, ditando o tempo suficiente para que cada molécula possa restituir o passado. Em segundos e como uma droga, o cheiro percorre dez mil anos de procura desesperada. Sobrevoa os séculos em que nos foi proibido o abraço, todas as vidas em que nos foi negado respirar a pele do outro, até alcançar o dia primeiro, o dia em que o amor gravou a sangue a eternidade. Por momentos o tempo pára, e o coração diz-me que foi nesse instante que nasceu a verdade, no momento exacto em que a minha pele e a sua se misturaram pela primeira vez. Depois expiro lentamente, soltando o passado à medida que regresso outra vez à cama onde nos deitamos, ao lençol que nos abraça. Então digo, eu conheço a força deste cheiro, conheço a longa viagem deste perfume. Não serão outros mil séculos suficientes para me roubar de novo o amor, porque num segundo, no breve instante em que o ar me incendiou o peito, eu respirei a eternidade.

4 comentários:

frosado disse...

Empolgante! Lindo!

Thaline disse...

Nossa Vítor ( desculpe não ter visto q era menino, hehe, Que lindo esse texto, palavras tão profundas. Realmente o amor está muito mais para olfativo do que para aquele que só é demonstrado com palavras que, nem sempre são as mais verdadeiras.
belo isso.
ps: Entrei no seu profile e encontrei 5 registros de blogs, então nao soube para onde ir, qual o endereço...(?) Se puder me passar depois, ficarei agradecida.
beijos

Lu disse...

Querido, o amor é tão difuso e tão complexo e ao mesmo tempo tão simples... é uma loucura amarela tal qual a de Van Gogh.
Esse teu texto está de uma beleza cativante, descobri sob o bordado alguns riscos novos... acho que o Osman está te fazendo um bem maior do que o imaginado!
Para além da contribuição dele, tem a tua sensibilidade que é inalienável.
Beijos

Vítor Leal Barros disse...

a sensualidade da literatura do Osman alimenta-nos a libido...hehehe