sexta-feira, fevereiro 10, 2006

O Diário de G.H. (2)


Depois do tumulto

Choveu toda a noite, chuva miudinha, incansável. O céu parecia solidário à minha incompreensão, ao medo da descoberta que fiz quando arranquei a primeira camada de pele...
De repente, o relâmpago e nessa hora eu entendi a poesia das minhas muitas vidas.
Minha angústia, minha pressa de viver foi a responsável por tantas pessoas em mim. O silêncio de não me saber gerou inquietações e a cada interrogação uma vida nascia para responder os meus anseios.
Mas minha busca é pela criatura primeira, aquela que tomou um grande susto diante da velocidade da vida e dos intervalos de silêncio que ela me oferecia a cada vez que não sabia responder as minhas tantas curiosidades.
Um inferno abrasador movia meus impulsos, mas a chuva veio amainar meus plurais e trazer o alívio.
Sou eu quem me vê assim, sou eu quem sabe da desordem da casa, dos tais tropeços, da quantidade de pernas e braços. Poucos podem enxergar o que está por baixo da primeira camada. E eu me mortificava por confundir defeitos com verdades.
A diferença? Nem todos vêem as verdades, contudo, os defeitos exacerbam. As estranhezas saltam aos olhos como um grande abismo, mas as verdades dos meus muitos membros revelam-se para mim, somente, encontram-me na madrugada, nos sonhos, nas sombras que projeto.
A minha mão impõe-me um papel e não há delicadeza nessa procura.

2 comentários:

Vítor Leal Barros disse...

striptease...arrancando a pele por camadas...estou a gostar deste diário

Lu disse...

Algumas vezes eu chego a temer esse diário...
Saudades de ti.