terça-feira, janeiro 30, 2007

Metapoemas (2)

SANTO OFÍCIO

Inicio minha rotina:
Prostro-me sobre o papel
Arrisco algumas palavras
Que nada traduzem,
Só me servem de broquel.

Recomeço tudo de novo.
Faço esforço, me contorço
E uma minúscula gota de seiva
pinga. Verto sangue
E consigo a base do poema.

Busco acessórios, complementos.
Eles não combinam...
Torço a pena,
Espremo o bagaço da tinta.
E uma nova palavra ilumina
Meu poema tosco.

Invento sentidos para o que me consome.
O vazio arde de dia
E à noite, ele fica insone.
Modelo a estrutura
Da tessitura do verso inconsútil.
Mas ela não se revela,
Permanece rija e pura.

Cedemos ao cansaço
do nosso embate diário.
Permitimo-nos o silêncio e
a pausa para o abraço.

Mais tarde, porém,
A luta recomeça.
Eu tento domá-la - a palavra;
Ela reage, possessa.

(Luciana Melo 27/12/01)

1 comentário:

Vítor Leal Barros disse...

penso já ter lido este teu poema...

é como se as palavras tivessem uma vida própria que nos escapa e nos domina completamente...