António, ainda sobre aquela conversa do Modernismo ter constituído ou não uma revolução, tenho encontrado novos argumentos que fundamentam e alargam a minha opinião nalgumas leituras que ando a fazer. Passo a citar, está implícito:
'Composition with red, yellow, blue and black', 1921, Gemeentemuseum, Haia, Holanda, Piet Mondrian
“Sem dúvida, todas as grandes obras artísticas do passado inovaram sempre de uma maneira ou de outra, introduzindo aqui e ali a derrogação dos cânones em vigor, mas é apenas neste fim de século [séc. XIX] que a mudança se torna revolução, ruptura clara na trama do tempo, descontinuidade entre um antes e um depois, afirmação de uma ordem resolutamente outra. O Modernismo não se contenta com produzir variações estilísticas e temas inéditos, quer romper a continuidade que nos liga ao passado, instituir obras absolutamente novas. Mas o mais notável ainda é que a raiva modernista desqualifica, no mesmo impulso, as obras mais modernas: as obras de vanguarda, logo depois de produzidas, tornam-se retaguarda e afundam-se no déjà-vu; o modernismo proíbe o estacionamento, impõe a invenção perpétua, a fuga para diante, e é essa a «contradição» que lhe é imanente: «A modernidade é uma espécie de auto-destruição criadora… a arte moderna não é somente filha da idade crítica, mas crítica de si própria». Adorno dizia-o de outra maneira: o modernismo define-se menos por declarações e manifestos do que por um processo de negação sem limites e que, por isso, não se poupa a si próprio: a «tradição do novo», fórmula paradoxal do modernismo, destrói e desvaloriza inelutavelmente aquilo que institui, o novo inclina-se de pronto na direcção do antigo, nenhum conteúdo positivo é já afirmado, sendo a própria forma de mudança o único princípio que governa a arte. O inédito tornou-se o imperativo categórico da liberdade artística.”
A Era do Vazio (Relógio D’Água), Gilles Lipovetsky
1 comentário:
obrigado vítor pela dica lá n' dp
citação muito a propósito (o fora do tempo não existe...)
curioso, comecei a ler, vi o nome do GL e pensei: eu também tenho este livro mas não me lembro da passagem... (estava errado, é "O Império do Efémero", de que na altura não gostei particularmente...) pensei imediatamente na Teoria Estética do Adorno, quando, pumba, curto-circuito!
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