terça-feira, abril 04, 2006

Resposta ao post anterior

Não tenho a certeza se podemos estabelecer a equivalência entre os blogues ditos literários, com os folhetins do séc. XIX... Talvez existam pontos comuns que nos levem a pretender isso, mas creio que a principal diferença (e talvez significativa), que se prende com a exigência e qualidade dos escritos, fique, no "folhetim" contemporâneo, aquém das expectativas...
A celeridade do processo de publicação on-line é inimiga do estudo, da investigação, do comprometimento... é, na sua essência, imediata, e portanto, fugaz. Gosto de olhar o fenómeno de publicação on-line (os blogues) como uma espécie de caderno de notas, onde, diariamente, se vai gravando aquilo que do quotidiano seduz a nossa sensibilidade e aprecio sobretudo a multiplicidade e heterogeneidade das abordagens, que, perto ou distantes das nossas, não deixam de ser um testemunho valioso da individualidade e experiência intransmissível de cada um. (Nem por acaso, pensei escrever hoje uma espécie de remate à leitura que ando a fazer de “Arquivos do Norte” da Yourcenar, cuja reflexão incidia exactamente na preciosidade do testemunho de cada ser humano. A sensação que fico depois de ler o livro, é de que não existem vidas desinteressantes… mas voltarei a esse tema mais tarde).
Enfim, e para concluir o assunto, considerar os blogues ditos literários equivalentes dos folhetins do séc. XIX, talvez seja uma comparação ambiciosa pelas razões que já apresentei. Penso que os principais contributos desta nova forma de publicação residem essencialmente na democratização dos meios e consequente heterogeneidade de abordagens e na noção de tempo real em que tudo acontece, onde quem publica pode receber imediatamente o feedback do público. Para terminar, é essa iminente celeridade a principal inimiga da qualidade dos conteúdos publicados… um blogue não é nem deve tornar-se um substituto dos livros, cada um possui o seu papel específico e não invalida a presença do outro.

5 comentários:

João Villalobos disse...

Caro Vítor,

Nós, no Prazeres... gostamos de ver os textos que publicamos como algo que tem necessariamente uma existência efémera, ao contrário das obras publicadas de alguns dos membros da equipa, que sobreviverão ad seculum seculorum... :)
Abraço

Vítor Leal Barros disse...

não estou muito por dentro desse último assunto, Lu, já espreitei algumas vezes mas nada de conclusivo...depois explicas-me..

Vítor Leal Barros disse...

esperemos que assim seja João

Dinamene disse...

Boa reflexão, já por mim encetada no Sobre a Pálpebra.
Espero poder voltar a ela um dia destes e virei aqui bater.
Abraços

Dinamene disse...

Aliás, postei no Legendas uma perguntinha, indirecta, via J. Camilo, do emérito Blue Everest. Seria bom que fôssemos pensando melhor estas coisas.