quinta-feira, setembro 14, 2006

janelas abertas (1)

M.A. é uma mulher de 35 anos. Por volta das seis da tarde quando regressava do trabalho, lembrou-se que deveria passar pelo supermercado. Tinha-se esquecido de comprar ovos e farinha na compra do mês e hoje queria oferecer um bolo a si própria. Há muito tempo que não fazia um bolo.
M.A. não tem família. Vive sozinha desde a morte da mãe. O pai nunca conheceu. Homens também não. Gosta de coisas simples, do gato, dos vasos que rega diariamente, do sol, e de vez em quando de fazer bolos. Agrada-lhe o tempo de espera enquanto o bolo coze. É como se sentisse que mesmo seguindo rigorosamente as receitas, os resultados não dependessem exclusivamente de si. Quando abre o forno e se depara com a forma e o cheiro final é sempre um momento de grande satisfação, até nas ocasiões em que o resultado não é o mais desejado. M.A. é daquelas pessoas que acha que nada acontece por acaso e que para tudo há uma solução, e portanto, não se aborrece quando o bolo sai do forno completamente queimado.
As amigas estão quase todas casadas. Algumas já têm filhos. No trabalho perguntam-lhe dia sim, dia não se já arranjou namorado. M.A. responde-lhes que se está solteira é porque Deus assim quer e que se sente feliz com a vida que tem. Esperar não é coisa que lhe cause angústia.

1 comentário:

Lu disse...

Andas por acaso compartilhando meus sonhos, Dr. Barros???
;o)