quarta-feira, março 29, 2006

Confessionário (16)

E ainda bem que a vida te floresce quando sentes o colo daqueles que amas. Uma vez disseste-me que uma das tuas qualidades era nunca desistir… eu não poderia estar mais de acordo. Lembras-te do processo de transformação que te falei? Lembras-te de te dizer que a sorte ou o azar são exclusivamente matéria-prima em estado bruto, rochas prontas a ser delapidadas escrupulosamente como se tivéssemos mãos de escultor? Então, minha amiga, segue o caminho do mago, segue a sua loucura e o seu fascínio. O que o distingue dos outros não é mais do que a capacidade de sonhar…
Sabes, enquanto andava por lá lembrei-me de ti várias vezes. Partilhei com quem amo o sonho de nos reunirmos os quatro no mesmo café de Montmartre. Na hora sorrimos como se sentíssemos o futuro caminhar até nós. Depois, enquanto permitia que os rostos delicados de Botticelli me tranquilizassem a alma, sentia-te extasiada na ala oposta do museu, encantada com o mistério e a sensualidade de Afrodite, decifrando a cada curva do torso, se a Vénus (como lhe chamam), não é uma declinação da Ártemis grega ou da Diana romana. Tenho a certeza absoluta que, naquele momento, estava a escrever o futuro.
Como lembrança, deixo-te este pedaço de sonho:

“Vénus et les Grâces offrant des présents à une jeune fille”, fresco 1484(?), Sandro Botticelli

[Confessionário (15)]

1 comentário:

frosado disse...

Que lindo! Ainda bem que voltaste inspirado...