terça-feira, março 14, 2006

O diário de G.H. (5)

O reverso da medalha

Não sabia o que fazer. Estava em choque.
Preocupações menores acorreram ao pensamento: “ficarei com o corpo tatuado?”, “nunca mais poderei usar um decote?”.
O pranto explodiu, um medo repentino tomou-me de assalto, contudo, instantaneamente fui pensando em algo para me acalmar e comecei a cantarolar uma canção. Aos poucos já respirava normalmente.
Corri para a sala, procurei na estante o dicionário de mitos. Artêmis, Artêmis... Artêmis! Achei. A tal coisa havia grafado o nome de forma errada.

“Tida como virgem e defensora da pureza, era também protetora das parturientes e estava ligada a ritos de fecundidade; na Ática, enfatizou-se seu caráter de "senhora das feras". Apesar dessa imagem protetora, Artêmis exibia facetas cruéis: matou o caçador Órion; condenou à morte a ninfa Calisto por deixar-se seduzir por Zeus; transformou Acteão em cervo para ser despedaçado por sua própria matilha e, com Apolo, exterminou os filhos de Níobe e Anfião, para vingar uma suposta afronta.”

Lembrava-me que a morte de Orion havia sido uma fatalidade, um ardil preparado por Apolo, mas isso não vinha ao caso agora. O que essa outra queria me dizer?
As costas voltaram a arder e busquei novamente o espelho.
Gritei para ela ouvir:
- Não quero que se acostume a isso. Meu corpo não é seu livro de cabeceira!
A ardência cedeu prontamente. Olhei através do espelho e minha pele estava novamente lisa, imaculada.
Vesti-me e saí de casa o mais rápido possível.
Entrei no carro, liguei o rádio e dei a partida. Distraí-me ouvindo as músicas e quando percebi já havia passado do bar. Olhei pelo retrovisor e... claro, a palavra era outra!


3 comentários:

Vítor Leal Barros disse...

bem me parecia que essa palavra não ficaria tatuada para sempre... hummm! eu sabia!

Lua em Libra disse...

ô, minha Lu. Tu és sempre surpresa. Preciso te reler e reler e reler até decifrar-te as letras. Ou então a ânsia de não entender devora-me. E eu adoro.

Beijos na alma.

Lu disse...

Descobri que o diário, assim como as cartas de V., é uma eterna surpresa. Só sei o que acontecerá no momento em que escrevo.
Beijos.