segunda-feira, março 13, 2006

sublinhado (16)

"O homem com os seus poderes que, avaliem-se como se avaliarem, constituem uma anomalia no conjunto das coisas, com o seu dom temível de ir mais longe no bem e no mal do que o resto das espécies vivas por nós conhecidas, com a sua horrível e sublime faculdade de escolha."(pág. 17)
Arquivos do Norte (Difel), Marguerite Yourcenar
ps. Por vezes penso como foi acertado o nome que demos a este blogue, na altura em que a Lu o sugeriu e apesar de ter adorado a ideia, questionei-me sobre a ligação junguiana do termo. Hoje tenho a certeza de que foi o nome certo, as provas sucedem-se em catadupa. Por exemplo, no mesmo dia em que escolho publicar as notas e apontamentos de "De quem me fala" (acto que ponderei bastante nos últimos dias) deparo-me com esta citação da Yourcenar e com o texto do Henrique publicado parcialmente mais em baixo. Bem, perguntam-me, e qual a relação entre esses acontecimentos? Todos eles giram em torno da escolha, do acto de optar e decidir, tão "horrível e sublime". Tinha lido "Souvenirs Pieux", o primeiro livro de memórias de Yourcenar, dedicado à família materna, há uns 3 anos, mais ou menos. Na altura comprei os outros dois volumes ("Arquivos do Norte" e "O quê? A eternidade?"), o díptico dedicado à familia paterna da autora. Deixei-os encostados durante todo este tempo, não sabendo muito bem porquê. Hoje chamaram-me de novo e eu entendi imediatamente a razão. Há um tempo para tudo, e uma razão para as coisas acontecerem. Apesar da nossa capacidade de escolha, e da vontade de deixarmos o puzzle por acabar, como diz o Henrique, há uma certa inevitabilidade na cadência, no ritmo, na razão e na forma como as coisas acontecem. Não sei bem se há um porquê para tudo o que nos acontece, mas tenho a certeza que há sempre um conhecimento qualquer a reter. Há quem lhes chame "coincidências"... eu prefiro chamar-lhes "reflexões sobre a capacidade de surpreender o tempo"... longo, não?!

1 comentário:

Lu disse...

Querido, estou muitíssimo orgulhosa de ti.
Sabia de alguma forma que a sincronicidade era nosso grande elo, com ou sem Jung, embora ele dê uma refinada na coisa ;o)