sexta-feira, setembro 15, 2006

Da Irracionalidade

Há coisas inexplicáveis, coincidências que ultrapassam qualquer tipo de lógica. No dia 7 deste mês publiquei um pequeno texto (um daqueles tercetos) sobre o suicídio. O tema do terceto não surgiu por acaso. Soube por pessoas amigas que um acidente desses se tinha dado com alguém que eu não privava mas que conhecia de vista. A notícia não me saiu da cabeça durante dias. Do dia 10 para o dia 11 assisti a um documentário na televisão sobre os jumpers do WTC. O assunto voltou ao de cima e publiquei aquela reflexão sobre a fotografia do Richard Drew. A leitura que andava a fazer de Simone Weil voltava a fazer-me reflectir sobre o assunto, o seu pensamento em relação à dor e ao sofrimento, a ligação de tudo isto com o divino traziam-me novas coordenadas para a equação. De seguida a Lu escreve aquele post cheio de perguntas pertinentes obrigando-me a raciocínios que eu nem tinha formulado. Pouco depois de ter lido o post da Lu, numa visita ao Insónia, encontro um texto sobre um filme do Kiarostami onde a certa altura aparece esta frase de Kirilov: «Aqueles que se matam por loucura ou desespero, não pensam no sofrimento. Mas os que se matam por raciocínio, pensam demasiadamente nele.» Pensava eu que as coincidências tinham ficado por aí. Ontem, pousei o livro de Simone Weil na estante e percorri-a com o olhar à espera que outro livro me chamasse. Tinham-me oferecido “Os Emigrantes” do W. G. Sebald em Maio deste ano. Eu tinha lido “Austerlitz” e tinha-me entretido, decidi então que seria esse o livro que iria começar a ler. Agora pasmem! Os dois primeiros personagens do livro suicidam-se, um em cada capítulo. Como só li os dois primeiros não sei o que me espera, mas imagino.

O Dr. Selwyn, depois desta visita, passou a vir a nossa casa cada vez mais espaçadamente. Vimo-lo pela última vez no dia em que levou a Clara um ramo de rosas brancas entrelaçadas com gavinhas de madressilva, pouco antes de partirmos de férias para França. Poucas semanas depois, no fim do Verão, pôs termo à vida com a sua grande espingarda de caça. (pág. 25)

Em Janeiro de 1984 chegou-me, vinda de S., a notícia de que Paul Bereyter, com quem fiz a escola primária, tinha, na tarde do dia 30 de Dezembro, portanto uma semana após ter feito 74 anos, posto termo à vida, para o que, a pouca distância de S., onde a linha férrea encurva para sair de um pequeno bosque de salgueiros e entrar em campo aberto, foi deitar-se diante do comboio. (pág. 29)
Os Emigrantes (Teorema), W. G. Sebald

2 comentários:

Vítor Leal Barros disse...

obrigado pelo esclarecimento Henrique

Lu disse...

Eu já disse isso e torno a repetir: Deus não joga dados, meu Vítor... e isso tem relação com aquela outra conversa ou com a continuidade da mesma levando em consideração a espiritualidade, o self ou o Deus em nós... tentarei elaborar isso melhor.
Beijo