M. é uma mulher de 72 anos. Não fala muito. Quem a conhece diz que gosta de se levantar muito cedo, aí pelas cinco horas da manhã, quando se ouve apenas o respirar da natureza. Toma um café bem quente e sai de casa ainda noite fechada enquanto os outros quinze habitantes da aldeia dormem. Pensa as galinhas, sega erva para os coelhos e ainda o sol não nasceu vai ao cemitério rezar pelos seus.
M. foi a salto para França em 70. Levava dois filhos pela mão, outro ainda no bucho, o dinheiro para o passador no soutien e no bolso da saia a morada de F., seu marido, emigrado dois anos antes para adiantar a vida.
M. não sabe ler nem escrever, fala apenas o português da terra e o francês que por lá desenrascou, mas diz quem a conhece que nas contas é infalível e que não há ninguém capaz de lhe dar a volta. Todos os anos, pelo Natal, telefona às madamas para quem fazia a ménage, todas muito bôs senhoras nas suas palavras e que lhe deram o pão e os trocos que foi juntando para construir a casa na aldeia.
M. volta do cemitério está o sol a lançar os primeiros raios sobre a serra. Acorda F. com um beijo e prepara-lhe o pequeno-almoço. Vai a casa do Ti Q., o parente mais velho da aldeia acamado há quase dois anos. Lava-o, muda-o, faz o almoço que lhe serve na boca e sai antes do meio-dia, depois de ligar o rádio a pilhas que o entretém durante a tarde. Ao cair da noite, antes de se sentar à mesa com F., corre de novo a casa do Ti Q. para lhe enfiar a sopa. Às dez horas mete-se na cama, enrosca-se em F. e espera por mais um dia.
Diz quem conhece M. que nada a faz mais feliz do que o 15 de Agosto quando os três filhos chegam de França para a romaria da aldeia. Espera-os todos os anos da mesma maneira, de pé, no início da única estrada que serve a terra, as mãos encostadas contra o peito, as lágrimas a correrem-lhe pela face e o coração aberto ao abraço tão desejado.
M. foi a salto para França em 70. Levava dois filhos pela mão, outro ainda no bucho, o dinheiro para o passador no soutien e no bolso da saia a morada de F., seu marido, emigrado dois anos antes para adiantar a vida.
M. não sabe ler nem escrever, fala apenas o português da terra e o francês que por lá desenrascou, mas diz quem a conhece que nas contas é infalível e que não há ninguém capaz de lhe dar a volta. Todos os anos, pelo Natal, telefona às madamas para quem fazia a ménage, todas muito bôs senhoras nas suas palavras e que lhe deram o pão e os trocos que foi juntando para construir a casa na aldeia.
M. volta do cemitério está o sol a lançar os primeiros raios sobre a serra. Acorda F. com um beijo e prepara-lhe o pequeno-almoço. Vai a casa do Ti Q., o parente mais velho da aldeia acamado há quase dois anos. Lava-o, muda-o, faz o almoço que lhe serve na boca e sai antes do meio-dia, depois de ligar o rádio a pilhas que o entretém durante a tarde. Ao cair da noite, antes de se sentar à mesa com F., corre de novo a casa do Ti Q. para lhe enfiar a sopa. Às dez horas mete-se na cama, enrosca-se em F. e espera por mais um dia.
Diz quem conhece M. que nada a faz mais feliz do que o 15 de Agosto quando os três filhos chegam de França para a romaria da aldeia. Espera-os todos os anos da mesma maneira, de pé, no início da única estrada que serve a terra, as mãos encostadas contra o peito, as lágrimas a correrem-lhe pela face e o coração aberto ao abraço tão desejado.
4 comentários:
Adorei esta história das nossas avós que têm garra e genica para elas e para os outros.
Verdadeira ou inventada, corresponde a muitas velhotas deste Portugal.
Meu querido, não esqueci dos teus pedidos, aguarde-me.
Mas para adiantar-lhe algo, além do afeto pessoal que nutro por esta série, vejo de novo o contador de histórias excelente que tu és.
Um beijo.
A heroina deste teu conto é apenas uma parte da grande mulher que te deu a inspiração para escreve-lo. É de ficarmos com as lágrimas nos olhos. Beijos
;) chiribita
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