tu sabes que procuro a sombra
no trilho dos dias que correm para o mar.
esbracejando como um corpo infantil
que aprende a equilibrar-se ao som das ondas.
ou como uma borboleta em pleno outubro,
perdida na estação que nos orfanou.
estranhaste a palavra? eu sei…
mas o verbo existe e esculpiu-nos no peito
um marco de pedra que nos cospe o tempo.
diz que um ano amor, diz que orfanámos há um ano.
a vida remeteu-nos para
um endereço falso, impossível.
um lugar instável e impróprio. indigno.
um lugar covarde como a penumbra.
o espaço que eu proibiria se fosse deus.
um lugar morno, terrivelmente morno
sem sal nem suor, sem lágrimas.
nem deus desejou tanto mal a eva.
deu-lhe o mundo, amor, deu-lhe filhos
depositou-lhe o desejo nas mãos.
onde nos encarceraram amor?
fomos eternamente endereçados
à fronteira cruel que divide a sombra
do vazio preenchido pelo branco da luz.
como pude eu desejar viver nessa casa?
diz-me amor, como pude querê-lo?
estaria invariavelmente cego, distraído,
um idiota brincando como sempre, tentando
guardar as palavras onde elas não cabem
e os ódios debaixo do coração, sim,
porque nunca o romperam amor.
tu nunca o permitiste, lembras-te?
e há um ano que vagamos nesta prisão
como as sementes perdidas de caim
atiradas sobre os despojos de deus
nos lugares onde a espera é eterna.
ajudas-me a procurar a sombra?
promete-o, faz-me uma jura de sangue
e depois rega-me dele, enche-me com o sabor
da carne porque não aguento esta palidez,
esfrega-te violentamente em mim, encharca-me
para que saiba que mesmo órfão
estarei pintado de encarnado forte.
lava-me com o teu sangue, festeja,
para que a morada se desfaça e a ruína apague
a crueldade de habitar entre a luz e a sombra.
lava-te também em mim se o desejares.
pinta-te com o meu sangue, chafurda.
juntos negaremos o limite desta fronteira amor.
e um dia, faremos como a criança e a borboleta:
procuraremos a sombra junto do mar,
órfãos, reequilibrando-nos ao som das ondas.
traremos os braços marcados pelas veias
rasgadas do nosso pacto. cansados e exaustos.
e uma réstia de força para enterrar na areia
o cadáver moribundo da estação que nos orfanou.
porque haveremos de matá-la amor...escreve:
um dia arrastaremos o outono pelos cabelos.
no trilho dos dias que correm para o mar.
esbracejando como um corpo infantil
que aprende a equilibrar-se ao som das ondas.
ou como uma borboleta em pleno outubro,
perdida na estação que nos orfanou.
estranhaste a palavra? eu sei…
mas o verbo existe e esculpiu-nos no peito
um marco de pedra que nos cospe o tempo.
diz que um ano amor, diz que orfanámos há um ano.
a vida remeteu-nos para
um endereço falso, impossível.
um lugar instável e impróprio. indigno.
um lugar covarde como a penumbra.
o espaço que eu proibiria se fosse deus.
um lugar morno, terrivelmente morno
sem sal nem suor, sem lágrimas.
nem deus desejou tanto mal a eva.
deu-lhe o mundo, amor, deu-lhe filhos
depositou-lhe o desejo nas mãos.
onde nos encarceraram amor?
fomos eternamente endereçados
à fronteira cruel que divide a sombra
do vazio preenchido pelo branco da luz.
como pude eu desejar viver nessa casa?
diz-me amor, como pude querê-lo?
estaria invariavelmente cego, distraído,
um idiota brincando como sempre, tentando
guardar as palavras onde elas não cabem
e os ódios debaixo do coração, sim,
porque nunca o romperam amor.
tu nunca o permitiste, lembras-te?
e há um ano que vagamos nesta prisão
como as sementes perdidas de caim
atiradas sobre os despojos de deus
nos lugares onde a espera é eterna.
ajudas-me a procurar a sombra?
promete-o, faz-me uma jura de sangue
e depois rega-me dele, enche-me com o sabor
da carne porque não aguento esta palidez,
esfrega-te violentamente em mim, encharca-me
para que saiba que mesmo órfão
estarei pintado de encarnado forte.
lava-me com o teu sangue, festeja,
para que a morada se desfaça e a ruína apague
a crueldade de habitar entre a luz e a sombra.
lava-te também em mim se o desejares.
pinta-te com o meu sangue, chafurda.
juntos negaremos o limite desta fronteira amor.
e um dia, faremos como a criança e a borboleta:
procuraremos a sombra junto do mar,
órfãos, reequilibrando-nos ao som das ondas.
traremos os braços marcados pelas veias
rasgadas do nosso pacto. cansados e exaustos.
e uma réstia de força para enterrar na areia
o cadáver moribundo da estação que nos orfanou.
porque haveremos de matá-la amor...escreve:
um dia arrastaremos o outono pelos cabelos.
*
3 comentários:
Que forte, este poema, Vitor! Se soubesse eu esmurrar muros e inverter vontades, talvez tivesse-o escrito, se soubesse das competências as verdades. Parabéns, coisa boa te ler assim, pleno.
Beijo na alma
já arrastas o outono pelos cabelos...
Vítor, um dia conseguiremos apagar toda a tatuagem que nos marca a pele... retornaremos lisos, porque na estação que eu acredito não há espaço para covardias e desafetos...
Ama-se uma só vez dentre todas as vezes que amamos. Custa-me acreditar que há desperdício em amar.
a penumbra que é como o ruído do vento a soprar nas folhas caídas no chão, o Outono é triste.
Maria João
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