quinta-feira, outubro 26, 2006

Teorias amorosas (6)

Vivia pelos cantos, amuado, murcho, na defensiva. Era refratário ao mundo ao seu redor. Dormia muito, tanto que já não era capaz de distinguir os dias.
Tentei contato:
- Que tal uma caminhada?
- Não tenho vontade.
- Já sei. Vamos sair, chamamos os amigos, tomamos uma cerveja.
- Vai você.
- Eu vou, mas e você?
Deu com os ombros.
- Esse teu silêncio é o que me mata.
De repente, num estalar de dedos, ele veio de braços abertos em minha direção. Ele sempre agia assim quando lhe faltavam argumentos, tão patético. Esquivei-me dos seus tentáculos. Seu abraço não iria mais abafar o grito:
- Do que você tem medo? Seja qual for o problema, eu não vou te abandonar!
- Talvez eu queira ser abandonado.
Talvez eu queira ser abandonado. Talvez eu queira ser abandonado. Isso ecoava nos meus ouvidos numa avalanche de sinonímia: “cai fora”, “eu não te quero mais”, “acabou”. Foi o que ele disse sem dizer. E se não foi, também não se retratou.

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