Vítor, como prometi, eis aí o poema que fiz há anos atrás. Acho que ele dialoga com uma das tuas personagens da série Janelas Abertas.
PARTO
Que vulto é aquele
chorando no escuro?
É uma mãe
que nunca teve filhos.
Não teve filhos?
Então, de quem ela é mãe?
Quieta, boca presa!
Ela bem pode ouvir o segredo.
Por favor, falai sem medo
Que tipo de mãe é essa?
É aquela em que o corpo fez-se grávido
Sem jamais um filho gerar
Como pode um ventre crescer
Sem ter nele um filho a guardar?
O ventre não cresce,
Barriga não se vê
Mas existe um coração atento
E olhos ternos, de descoberta.
Uma mão sempre presente
acariciando suave, a testa.
Velando o sono da criança
Ela atravessa a noite deserta.
Se na madrugada ouve resmungos
Está pronta para ofertar seus braços
Enrosca-o sobre o peito despojado,
Oferece-lhe o colo como se fosse seu útero.
Sendo assim tão amorosa
Por que essa mãe chora?
Chora porque não tendo-o, de fato, gerado
Um dia, levaram-no embora.
Durante algum tempo
A distância aplacou-lhe o ânimo
A dor represou-lhe o pranto
E a memória era seu único ungüento.
Mas nas noites de chuva
Suas águas se agitam e transbordam.
As lembranças que eram grãos,
Avultam-se e afloram.
E cada lágrima que verte
É um filho que aborta.
Por favor, dizei depressa,
A criança, quando volta?
Volta, um dia volta...
Enquanto isso, façamos silêncio.
Não perturbemos!
Esperemos o dia de acendermos as luzes
E novamente abrirmos as portas.
PARTO
Que vulto é aquele
chorando no escuro?
É uma mãe
que nunca teve filhos.
Não teve filhos?
Então, de quem ela é mãe?
Quieta, boca presa!
Ela bem pode ouvir o segredo.
Por favor, falai sem medo
Que tipo de mãe é essa?
É aquela em que o corpo fez-se grávido
Sem jamais um filho gerar
Como pode um ventre crescer
Sem ter nele um filho a guardar?
O ventre não cresce,
Barriga não se vê
Mas existe um coração atento
E olhos ternos, de descoberta.
Uma mão sempre presente
acariciando suave, a testa.
Velando o sono da criança
Ela atravessa a noite deserta.
Se na madrugada ouve resmungos
Está pronta para ofertar seus braços
Enrosca-o sobre o peito despojado,
Oferece-lhe o colo como se fosse seu útero.
Sendo assim tão amorosa
Por que essa mãe chora?
Chora porque não tendo-o, de fato, gerado
Um dia, levaram-no embora.
Durante algum tempo
A distância aplacou-lhe o ânimo
A dor represou-lhe o pranto
E a memória era seu único ungüento.
Mas nas noites de chuva
Suas águas se agitam e transbordam.
As lembranças que eram grãos,
Avultam-se e afloram.
E cada lágrima que verte
É um filho que aborta.
Por favor, dizei depressa,
A criança, quando volta?
Volta, um dia volta...
Enquanto isso, façamos silêncio.
Não perturbemos!
Esperemos o dia de acendermos as luzes
E novamente abrirmos as portas.
(Luciana Melo – out/nov 2001)
3 comentários:
esta mulher é a Rhoda da v.woolf
Caramba, Lu! quase me fizeste chorar...
Mesmo, Vítor? Nessa época ainda não havia lido Virgínia.
Ah, Faátima, essa é uma longa história. Beijo.
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