Eu sabia que jamais reclinarias o convite. “Exile destroys, but if it fails to destroy you, it makes you stronger”, está aí no blogue publicado num post que ninguém leu por causa do palavreado fastidioso ou porque excede o tamanho aceitável numa plataforma de publicação desta natureza. Poderíamos substituir a palavra ‘exílio’ (exile) por uma série de outras palavras que a frase continuaria a fazer todo sentido. Tudo isto é a tradução das várias mortes e nascimentos que vamos tendo ao longo da vida, já te falei disto antes e não interessa agora voltar a desenvolver.
Nestes últimos dias pensei bastante no assunto que escolheria para te falar nesta confissão. Há três dias atrás li vários textos sobre o amor, sobre a natureza da sua essência, sobre a possibilidade de não existir e de ter sido mais uma das invenções humanas, como deus. Pensei em falar-te disso. Não conseguia dormir e as palavras saíam-me como uma tempestade, violentas e apressadas. Anotei tudo isso num caderno. Ainda não voltei a ler. Pensei também partir do que dizias na última confissão e acrescentar-lhe mais alguma coisa, pegar no que escreveste sobre a tendência que temos de racionalizar e tornar abstractos assuntos como o suicídio, a morte, a vida, quando os nossos dramas nos permitem a ausência necessária para os analisarmos dessa forma mas só me ocorria um dito popular que resume em palavras curtas e grossas tudo aquilo que eu penso em relação a isso: “pimenta no cu dos outros é refresco”.
Pensei ainda em falar-te de uma série de outros assuntos, coisas que nunca te disse, mas cheguei à conclusão que tudo isso não tinha qualquer importância. Ando cansado de discutir questões existenciais, minha amiga, ando cansado de argumentações, intelectualizações, ando cansado de conversas intermináveis sobre o vazio, ando cansado de lutas pela razão, ando cansado dos livros e da poesia, ando cansado dos jornais, dos artigos de opinião, ando cansado dos blogues, dos telejornais, ando cansado de procurar conhecer a opinião dos outros e de dar-lhes a conhecer a minha, ando cansado do trabalho e do disse-que-disse da novela profissional, ando cansado de ouvir todos os dias as mesmas intrigas, os mesmos queixumes, ando cansado de ver o mundo triste, de sentar-me no café e ser servido por uma mulher que é incapaz de soltar um sorriso, ando cansado de ver mortos vivos na paragem dos autocarros, nas ruas, no cinema, ando cansado de não poder passar mais tempo com aqueles que amo, de poder abraçá-los e beijá-los, ando cansado de não ter coragem para lhes mostrar o quanto são especiais para mim, ando cansado de perder tempo com uma série de coisas que não são importantes e de saber que a cada dia que passa a vida se encurta e as oportunidades de me encontrar com o essencial se vão esgotando, ando cansado de lutar em vão para atingir a ciência dos velhos: fazer a triagem certa.
Vivo neste imenso cansaço minha amiga. Vivo com a dor de saber que andamos todos imersos numa imensa cegueira e quando finalmente começamos a ver luz e a distinguir formas é tarde demais e a vida que podia ser, já foi. A vida é simples e custa-nos aceitar que assim é. Somos animais fascinados por nós próprios e a simplicidade é um prémio insuficiente: queremos sempre mais, até percebermos que esse mais não era de todo importante. O tempo esgota-se para mim e para todos nós… não me venham com a treta da vida eterna e de que há algures um lugar melhor do que este. O mundo é aquilo que nós fazemos dele, se está podre é porque o deixámos apodrecer. Duma coisa não tenho dúvidas, o Paraíso é isto, é esta vida, é a oportunidade de cá estarmos… os anjos invejam-nos como no filme do Wim Wenders, só nós não percebemos a sorte que temos, ou quando finalmente entendemos o prazo está no fim da validade. Milénios de humanidade e o ensinamento está por aprender, somos fracos alunos… é pena que assim seja.
Um beijo, e desculpa-me o desabafo, mas isto também é suposto ser uma confissão.
Nestes últimos dias pensei bastante no assunto que escolheria para te falar nesta confissão. Há três dias atrás li vários textos sobre o amor, sobre a natureza da sua essência, sobre a possibilidade de não existir e de ter sido mais uma das invenções humanas, como deus. Pensei em falar-te disso. Não conseguia dormir e as palavras saíam-me como uma tempestade, violentas e apressadas. Anotei tudo isso num caderno. Ainda não voltei a ler. Pensei também partir do que dizias na última confissão e acrescentar-lhe mais alguma coisa, pegar no que escreveste sobre a tendência que temos de racionalizar e tornar abstractos assuntos como o suicídio, a morte, a vida, quando os nossos dramas nos permitem a ausência necessária para os analisarmos dessa forma mas só me ocorria um dito popular que resume em palavras curtas e grossas tudo aquilo que eu penso em relação a isso: “pimenta no cu dos outros é refresco”.
Pensei ainda em falar-te de uma série de outros assuntos, coisas que nunca te disse, mas cheguei à conclusão que tudo isso não tinha qualquer importância. Ando cansado de discutir questões existenciais, minha amiga, ando cansado de argumentações, intelectualizações, ando cansado de conversas intermináveis sobre o vazio, ando cansado de lutas pela razão, ando cansado dos livros e da poesia, ando cansado dos jornais, dos artigos de opinião, ando cansado dos blogues, dos telejornais, ando cansado de procurar conhecer a opinião dos outros e de dar-lhes a conhecer a minha, ando cansado do trabalho e do disse-que-disse da novela profissional, ando cansado de ouvir todos os dias as mesmas intrigas, os mesmos queixumes, ando cansado de ver o mundo triste, de sentar-me no café e ser servido por uma mulher que é incapaz de soltar um sorriso, ando cansado de ver mortos vivos na paragem dos autocarros, nas ruas, no cinema, ando cansado de não poder passar mais tempo com aqueles que amo, de poder abraçá-los e beijá-los, ando cansado de não ter coragem para lhes mostrar o quanto são especiais para mim, ando cansado de perder tempo com uma série de coisas que não são importantes e de saber que a cada dia que passa a vida se encurta e as oportunidades de me encontrar com o essencial se vão esgotando, ando cansado de lutar em vão para atingir a ciência dos velhos: fazer a triagem certa.
Vivo neste imenso cansaço minha amiga. Vivo com a dor de saber que andamos todos imersos numa imensa cegueira e quando finalmente começamos a ver luz e a distinguir formas é tarde demais e a vida que podia ser, já foi. A vida é simples e custa-nos aceitar que assim é. Somos animais fascinados por nós próprios e a simplicidade é um prémio insuficiente: queremos sempre mais, até percebermos que esse mais não era de todo importante. O tempo esgota-se para mim e para todos nós… não me venham com a treta da vida eterna e de que há algures um lugar melhor do que este. O mundo é aquilo que nós fazemos dele, se está podre é porque o deixámos apodrecer. Duma coisa não tenho dúvidas, o Paraíso é isto, é esta vida, é a oportunidade de cá estarmos… os anjos invejam-nos como no filme do Wim Wenders, só nós não percebemos a sorte que temos, ou quando finalmente entendemos o prazo está no fim da validade. Milénios de humanidade e o ensinamento está por aprender, somos fracos alunos… é pena que assim seja.
Um beijo, e desculpa-me o desabafo, mas isto também é suposto ser uma confissão.
4 comentários:
Outro beijo, enorme, caloroso, cheio de sorrisos ternos... não careces pedir desculpas, nesse infinito mundo das relações humanas, onde encontra-se a nossa própria, tu podes tudo. Confessar, rosnar, trinir dentes e mandar a bandalha toda se foder, se for o caso.
Queridos, entrei aqui sem ser convidada, mas depois saí sorrateiramente para que este delicioso diálogo continue.bjs
está sempre convidada fátima!
Faço minhas as palavras do Vítor.
:o)
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