terça-feira, janeiro 24, 2006

IV

Quem caminhava entre a violeta e a violeta
Quem caminhava entre
As várias filas de vário verde
Indo de branco e azul, nas cores de Maria,
Falando de coisas triviais
Na ignorância e na sabedoria da eterna dor
Quem se movia entre os outros que caminhavam,
Quem então tornou poderosas as fontes e frescas as nascentes

Esfriou a seca rocha e consolidou as areias
No azul das esporas, nas cores de Maria,
Sovegna vos

Estes são os anos que caminham de permeio arrastando
Consigo os arcos e as flautas, restaurando
Aquela que se move no tempo entre o sono e a vigília, vestida

De branca luz envolvente, cingida em seu redor, envolvente,
Os novos anos caminham, restaurando
Através de uma clara nuvem de lágrimas, os anos, restaurando
Com um verso novo a rima antiga. Redime
O tempo. Redime
A obscura visão do mais alto sonho
Enquanto unicórnios ajaezados puxam o esquife doirado.

A irmã silenciosa velada de branco e azul
Entre os teixos, para lá do deus do jardim
Cuja flauta emudeceu, baixou a cabeça e acenou mas nada disse

Porém a fonte jorrou e a ave cantou
Redime o tempo, redime o sonho
O penhor da palavra ensurdecida, emudecida

Até que o vento sacuda do teixo sussurros mil

E depois deste nosso desterro.

T. S. Eliot

In “Quarta-Feira de Cinzas”, Relógio d’Água
Trad. Rui Knopfli

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