"Rejected" »» Daniel Blaufuks
"Quando passeio entre as campas do cemitério judaico em Lisboa, reconheço os nomes gravados na pedra, como se estivesse num cemitério de aldeia.
Uns pertenciam ao círculo mais próximo dos meus avós, ao grupo da canasta, outros iam, como nós, à sinagoga em dias de festa ou ao centro israelita aos sábados à tarde. Alguns nomes são anteriores a estes, avós, tios ou pais, que conseguiram também escapar. Das 50 mil a duzentas mil pessoas que passaram por Lisboa, apenas cinquenta aqui ficaram.
Agora temos três campas neste cemitério. Como muitas outras, pertencem à história desta guerra.
Os meus avós sairam de Hamburgo e chegaram ao porto de Lisboa no dia 8 de Abril de 1936, para não mais partirem. Segundo as cartas do meu avô, o mar esteve calmo e a viagem foi aborrecida. Talvez estivesse apenas ansioso pelo início da sua segunda existência. A minha avó enjoou, não do mar talvez, como pensou o meu avô na altura: a minha mãe nasceria, meses mais tarde, em Outubro, neste porto de abrigo.
Na Alemanha decidimos emigrar o mais rápidamente possível. As condições pioraram colossalmente, o que passou despercebido no resto da Europa, não só para nós judeus, mas em geral também.
Portugal era o único país europeu possível e existia o perigo de também fechar as fronteiras.
Assim casámos no dia 16 de Março, apenas no registo, porque tudo o mais teria custado muito dinheiro que precisávamos para outros fins.
No dia 31.3. à tarde deixámos Magdeburgo acompanhados na despedida por familiares e pelos nossos amigos.
Embarcámos, depois de tudo correr bem, no dia 3.4.36 no Monte Olivia, poderiamos ter trazido milhares connosco.
A viagem foi aborrecida, o tempo estava fresco e o mar tranquilo. Mesmo assim, a minha mulher enjoou, aproveitando pouco da travessia.
A 8 de Abril, pouco antes da Páscoa, chegámos com um tempo maravilhoso. As palmeiras resplandeciam ao nosso encontro."
Uns pertenciam ao círculo mais próximo dos meus avós, ao grupo da canasta, outros iam, como nós, à sinagoga em dias de festa ou ao centro israelita aos sábados à tarde. Alguns nomes são anteriores a estes, avós, tios ou pais, que conseguiram também escapar. Das 50 mil a duzentas mil pessoas que passaram por Lisboa, apenas cinquenta aqui ficaram.
Agora temos três campas neste cemitério. Como muitas outras, pertencem à história desta guerra.
Os meus avós sairam de Hamburgo e chegaram ao porto de Lisboa no dia 8 de Abril de 1936, para não mais partirem. Segundo as cartas do meu avô, o mar esteve calmo e a viagem foi aborrecida. Talvez estivesse apenas ansioso pelo início da sua segunda existência. A minha avó enjoou, não do mar talvez, como pensou o meu avô na altura: a minha mãe nasceria, meses mais tarde, em Outubro, neste porto de abrigo.
Na Alemanha decidimos emigrar o mais rápidamente possível. As condições pioraram colossalmente, o que passou despercebido no resto da Europa, não só para nós judeus, mas em geral também.
Portugal era o único país europeu possível e existia o perigo de também fechar as fronteiras.
Assim casámos no dia 16 de Março, apenas no registo, porque tudo o mais teria custado muito dinheiro que precisávamos para outros fins.
No dia 31.3. à tarde deixámos Magdeburgo acompanhados na despedida por familiares e pelos nossos amigos.
Embarcámos, depois de tudo correr bem, no dia 3.4.36 no Monte Olivia, poderiamos ter trazido milhares connosco.
A viagem foi aborrecida, o tempo estava fresco e o mar tranquilo. Mesmo assim, a minha mulher enjoou, aproveitando pouco da travessia.
A 8 de Abril, pouco antes da Páscoa, chegámos com um tempo maravilhoso. As palmeiras resplandeciam ao nosso encontro."
Sob Céus Estranhos, Daniel Blaufuks
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