Então caminhou até que a dor aguda nos pés o lembrasse que estava vivo. Tinham sido necessárias cinco vidas para desviar o olhar do chão, cinco vidas para apagar de vez esse olhar curvado e entorpecido, cinco vidas para que os olhos colidissem definitivamente com o horizonte. De ombros renovados, caminhou. Caminhou até que de novo a dor nos pés o lembrasse que estava vivo. Pela primeira vez em cinco vidas, o homem que não sabia chorar pressentiu uma lasca de tranquilidade a furar-lhe os olhos. Num gesto só, ergueu-os ao horizonte e deixou-se pacientemente cegar.
domingo, janeiro 15, 2006
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