“Caché” é a metáfora da arrogância subtilmente explicada desde a génese à sua manifestação física. Um personagem atormentado por fantasmas do passado, o peso da consciência e o rebuliço dos remorsos a destruírem, pouco a pouco, a imagem de sucesso que foi construindo à sua volta. O medo cresce à medida que o jogo avança e torna-se o único juiz. É ele quem comanda os actos e determina os destinos dos personagens. É o medo que escolhe a cobardia do caminho, é ele que impossibilita a comunicação e apresenta a mentira, é ele a imagem da arrogância que invalida o “porquê” do outro, que transforma as palavras do próximo numa mímica, num murmúrio inaudível. No fim, duas ou três palavras são suficientes para destituir o “intelectual”; um discurso simples, três ou quatro verdades numa atitude humilde e educada e o medo derretendo lentamente as fundações frágeis que sustentam o que resta da imagem. Há quem confunda “simples” com “simplório”, o filme tira todas as dúvidas. E não, por certo que a escolha do ambiente sócio-cultural dos personagens não é capricho do autor.
segunda-feira, janeiro 23, 2006
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2 comentários:
Muito bem visto e, sobretudo, muito bem escrito! Concordo contigo, agora fico a aguardar que vás ver o "match point", estou curiosa de ler a tua apreciação. Acho o filme extrordinário a vários títulos. Saí do filme com aquela "angústia" que ficava qd. de ler os livros da Patricia Highsmith...
queria dizer - depois de ler os livros da Patricia Highsmith.
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