terça-feira, janeiro 10, 2006

Image hosted by Photobucket.com

Balthus

Espasmos #1
Eu sempre me liquefaço em dias de chuva – nunca te disse? Pois é. Dissolvo-me. Diluo minha matéria bruta para aliviar meu peso, meus passos, pois sendo líquido posso vazar pelos poros transformando-me em corredeira ou simplesmente evaporar sem deixar vestígios.

Espasmos #2
É que na maioria das vezes sou mesmo corredeira volumosa...
Nunca escutas?
Quantas vezes precisarei desembocar em ti para entenderes a violência dos sentimentos gerados pela força das minhas águas?
Suplico ao vento que pare de soprar: estou exausta de tanta arrebentação.

Espasmos #3
E quanto mais gritava ao vento, menos era ouvida. A voz era dissipada pela velocidade do ar... senti-me órfã, abandonada, lançada ao redemoinho, ao pó... comigo, uma folha de papel era arremessada ao nada; esperei os movimentos, decorei sua rotação e no momento exato do rodopio, agarrei-a com as mãos.

Espasmos #4
A folha estava amarrotada num claro gesto de quem deitou fora uma idéia que não servia ou não conseguia desenvolver. Bem no centro do papel, em destaque, lia-se a palavra “memória”.
Queria lembrar-se de algo? Ou esquecer? Não importa, agora de posse da memória de outrem, escreveria sobre vidas que não me pertencem, mas que são parte de mim.

Espasmos # 5
E alguém sussurrou ao longe algo que me pareceu ser assim:
“Diante do Tempo, a vida
Pode parecer uma irrelevância
(Talvez o seja mesmo).
O que fazer se o irrelevante
É tudo o que possuo?
Fechar uma porta,
Apagar a luz
Faz toda a diferença.
Não tenho a eternidade para saber...”

3 comentários:

Vítor Leal Barros disse...

ainda bem que trouxeste teus espasmos contigo... sabes aqueles textos que vinha chamando "apontamentos", pois bem, estou a republicá-los (alguns alterados em relação ao que tinha escrito no Povo) e a constituir a nova série: "o homem que não sabia chorar" (um conjunto de 10 textos)

frosado disse...

estão lindíssimos os espasmos!

Dinamene disse...

Estou gostando, estou, desta casa.
Não percam a embalagem... vrum!
Abraço aos dois.