Talvez da janela questionasse, ainda sem ter percebido, se ao fundo os olhos conseguiam alguma resposta. Há anos que não olhava para trás, tinha medo de olhar para trás e sempre que o fazia duas árvores tombavam violentamente na terra e diziam-lhe que não. Duas a duas caíam, duas a duas varriam o caminho e matavam as sombras. Tudo até que o horizonte fosse em linha recta e a água pudesse subir amolecendo os pés da casa. À espera e sem olhar para trás - ainda hoje tem medo de olhar para trás - levava os joelhos ao queixo e as mãos aos tornozelos, talvez sentado na janela. A água lentamente cercava e derretia os pés da casa. Vindas de trás, duas a duas como jangadas afiadas, via as árvores derrubadas ultrapassarem-no pela esquerda e pela direita, duas a duas flutuando em direcção ao futuro.
Não olhava para trás - ainda hoje tem medo de olhar para trás. Em baixo, sentia os pés moles da casa. Na frente, duas a duas como velas em bolina, as árvores flutuavam pela esquerda e pela direita, as copas primeiro e depois as raízes a roçarem a casa. Talvez sentado na janela levasse os joelhos ao queixo e as mãos aos tornozelos. Tudo, assim, até que nascesse o silêncio.
Não olhava para trás - ainda hoje tem medo de olhar para trás. Em baixo, sentia os pés moles da casa. Na frente, duas a duas como velas em bolina, as árvores flutuavam pela esquerda e pela direita, as copas primeiro e depois as raízes a roçarem a casa. Talvez sentado na janela levasse os joelhos ao queixo e as mãos aos tornozelos. Tudo, assim, até que nascesse o silêncio.
5 comentários:
Quando olhamos para trás corremos o risco de virarmos estátuas de sal, não era assim que ensinava a bíblia?
Ah, mas a lágrima - sal em estado líquido - derrete o sal da estátua e nos devolve à condição e humanos. Demasiadamente humanos.
Parabéns pelo novo espaço, Vitor.
Abraço,
CeciLia
Tenho uma estranha afinidade com este texto.
O vosso novo blogue é muito interessante.
Abraço
e minhauuu ;)
obrigado caiê... bem vinda
cecília... como disse a Lu "nuestra casa es tu casa"
Silêncio parido de água nos pés (quente?) e dois troncos submersos. Amolecemos, das goteiras do dentro, quando a inundação não leva os joelhos para a frente.
Abraço, meu querido
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